Horas após receber alta hospitalar, neste domingo 15, Lula apareceu no Fantástico em entrevista exclusiva para a repórter Sônia Bridi. Durante mais ou menos 20 minutos, o presidente deu detalhes do acidente que sofreu e da cirurgia na cabeça. Falou também sobre a volta ao trabalho e dos desafios do governo após quase dois anos de mandato. Bolsonaristas foram às redes sociais para a conhecida bandalheira de sempre.
Mas o papo de Lula com a Globo não gerou reação negativa apenas na extrema direita – algo mais que previsível. Embora não seja possível cravar a estatística, digamos assim, pode-se dizer que boa parte da esquerda também não gostou do que viu. Por que uma entrevista exclusiva à emissora que esteve ao lado da Lava-Jato e do golpismo? É o que perguntam petistas em geral e jornalistas da autointitulada mídia alternativa.
Navegando a esmo por canais do YouTube, parei no ICL Notícias para ver Leandro Demori e Fábio Pannunzio num falatório sobre o tema. Resumindo, a dupla considera um erro na estratégia de comunicação do governo. Pannunzio chamou de “privilégio” à Globo a decisão de Lula em falar com exclusividade pra emissora da família Marinho. E lembrou que o ocorrido se inscreve numa espécie de tradição. Uma derrapada, diz ele.
Demori ressaltou que a audiência da Globo hoje não justifica a escolha de Lula. O governo precisa falar pelas redes sociais, pela internet em geral. Por essas e outras, argumentou o jornalista, a esquerda segue perdendo de goleada a guerra no universo digital. “O Bolsonaro não dava entrevista exclusiva à Globo”, comparou.
Luís Nassif, Cinara Menezes e Luiz Costa Pinto também não gostaram. Eles fazem parte de veículos como DCM, Brasil 247 e Revista Fórum – todos alinhados ao campo da esquerda. Vi reações abusadas em outros espaços no infinito mundo de redes e canais. Nos comentários da audiência desses espaços, foi pancadaria na Globo – e no governo.
É caso sério e delicado. Decidir por uma entrevista exclusiva é decidir por privilegiar algum veículo. Todo concorrente vai se sentir meio escanteado. Mas isso é incontornável. Agora, também não é aceitável que um governante queira falar apenas em ambientes amigos. Nada disso. Ele tem de se submeter a perguntas que incomodem, até mesmo com uma dose de hostilidade. Entrevista chapa-branca não é jornalismo.