É uma jogada inédita nos gramados da grande imprensa brasileira. O ex-jogador Ronaldo Nazário, o Fenômeno, apareceu em todos os telejornais da Globo para se anunciar como pré-candidato a presidente da CBF, a Confederação Brasileira de Futebol. Em dois dias seguidos, o cara ocupou um latifúndio de tempo no Jornal Nacional, Jornal da Globo, Bom Dia Brasil e Globo Esporte. Uma extravagância a ser esquadinhada.
Tudo bem, estamos falando de um campeão do mundo, um ídolo cultuado por milhões de torcedores por aí afora. Mas a cobertura da Globo para o anúncio de uma intenção – porque é isso o que temos – foi um carnaval, um despropósito. Parecia até que se tratava de um presidente eleito da confederação, e não um candidato a candidato.
O que está claro é que a TV Globo decidiu que Ronaldo é seu favorito ao cargo máximo no futebol brasileiro. As reportagens foram combinadas com o aspirante ao posto. Dado o tom das matérias, não tenho dúvida quanto a isso. Não é teoria da conspiração, mas a constatação do óbvio diante do que foi exibido. Ronaldo é solução na CBF?
Seus parças na imprensa já estão dizendo que ele é o candidato “antissistema” – ideia que anda desmoralizada na política brasileira. Nos últimos anos, o Fenômeno foi cabo eleitoral de Aécio Neves, Jair Bolsonaro e outras figuras nada exemplares da vida pública nacional. Foi também aliado fiel de Ricardo Teixeira, o quase eterno presidente da CBF.
Teixeira foi banido do futebol pela Fifa, depois que o volume de seus esquemas bateu em níveis devastadores – até para os padrões nada saudáveis da entidade máxima do esporte. Ronaldo nunca fez uma crítica sequer a seu amigo cartola. Não dá para engolir a brincadeira de que estamos diante de um adversário do sistema. É o contrário.
Candidato da Globo, o ex-atleta é o nome “perfeito” para tocar os contratos milionários da emissora com a CBF (Juca Kfouri batizou a entidade de Casa Bandida do Futebol). A ver como será a reação das federações estaduais – as sucursais da bandidagem – e dos grandes clubes. O esporte mais popular do país segue refém de interesses espúrios.
Pelo entusiasmo global, o rebelde candidato da “renovação” nasce sob suspeita.