O papo furado sobre uma “terceira via” está de volta. A conversa fiada correu solta e ganhou as manchetes no período que antecedeu a eleição presidencial de 2022. Na verdade, a tese era defendia com afinco por colunistas da grande imprensa, a partir do momento em que Lula voltou ao jogo político, liberado para concorrer após deixar a prisão em 2019. Criou-se a falsa simetria entre o petista e Bolsonaro, como se ambos fossem a mesma coisa. Alguém soltou a faísca e uma manada passou a replicar a coisa.

A tese fajuta servia como tentativa de desqualificar Lula. Como a ideia não passa de fraude intelectual, o tempo foi correndo, e nada de pintar o tal nome dessa imaginária terceira via. Na corrida às urnas de 2022, dois ou três pré-candidatos atuaram para se encaixar no modelito sonhado por setores reacionários que em 2018 elegeram Jair Messias. Cada um exibia seus dotes de “moderação” para a tal da elite.

Alguns dos cidadãos de bem que pleiteavam o selo de alternativo eram estes: João Doria, Romeu Zema, João Amoedo e Eduardo Leite. Havia outros, menos badalados, que naturalmente sumiram na poeira da estrada. Agora, praticamente a dois anos da disputa pelo Planalto, recomeçou a ladainha. Precisamos acabar com a polarização, pregam as mesmas vozes do passado recente. E a imprensa já embarcou na onda.

O primeiro a recorrer à fantasia, agora neste fim do ano, é o mesmo Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul. O bonitão harmonizado votou em Bolsonaro na eleição de 2018, mas não se assumiu como bolsonarista. Apoiou o capitão da tortura, aquele que defendeu “a morte de pelo menos 30 mil” – mas Leite fez tal escolha com equilíbrio e moderação. Afinal, o país não aguenta tanto radicalismo. Queremos delicadeza, claro.

Leite acaba de dar entrevista à Folha de S. Paulo, na qual repete a mesmíssima conversa cretina de “candidatura de centro”. De novo, a fraude de igualar o que em tudo é desigual. Fala o bolsonarista que não saiu do armário: “Continuo focado na construção de uma alternativa para 2026 que não seja Lula ou Bolsonaro”. É muita cara de pau.

Vejam o tamanho da vigarice do governador: ele trata Bolsonaro como se o miliciano estivesse livre para se candidatar. Ou seja, faz exatamente o que Jair Messias quer – ser tratado como elegível, o que ele não é. Somente por isso já se pode ver a dimensão da falácia dos senhores em busca da “terceira via”. É mais um dos tipos da “nova política”.