Depois da revelação sobre o dinheiro do “pessoal do agro” para financiar o golpe de Estado e o assassinato do presidente Lula, a bancada ruralista no Congresso Nacional se manifestou neste domingo. A tal Frente Parlamentar da Agropecuária reúne nada menos que 340 integrantes, somando deputados federais e senadores. É muita gente para garantir privilégios, pressionando o governo até com ameaças. O jogo é pesado.
A bancada opinou sobre o financiamento ao golpismo em reportagem da Folha de S. Paulo. A turma diz que “é inadmissível que ações isoladas sejam usadas para generalizar e comprometer a imagem de um setor econômico, composto por mais de 6 milhões de produtores, que desempenha papel fundamental no desenvolvimento do país”. O grupo também cobra “investigação transparente e equilibrada”. Bonito! Mas e na prática?
A Frente Parlamentar, que agora demonstra apreço pelas regras do processo legal, é a mesma que defende armamento geral, prega a força bruta contra movimentos sociais e apoiou todas as mazelas no governo Bolsonaro. Parece que o “pessoal do agronegócio” detectou a gravidade do que veio a público. Daí a fala mansa sobre os fatos expostos.
Nunca é demais lembrar: toda a bagaceira daqueles acampamentos após a vitória de Lula contou com fortíssimo apoio dos ruralistas. Várias grandes empresas do setor foram flagradas à luz do dia fornecendo veículos, alimentação, equipamentos e dinheiro para a ação dos celerados “patriotas”. Por isso, houve o terror do 8 de janeiro de 2023.
Como sabemos, o pessoal do agro usou essa rede espalhada pelo país inteiro para invadir Brasília e detonar as sedes do Executivo, do Legislativo e do Judiciário. As digitais alagoanas, claro, estão por ali, naquele espetáculo que uniu o fanatismo à bandidagem. Sim, é preciso apurar tudo e punir os “kids pretos” do campo. É o que todos queremos.
O discurso legalista de agora é a fachada na porteira de um fazendão apodrecido pelas práticas e ideias do mais profundo reacionarismo. Não é de hoje. Mas a parceria com Bolsonaro turbinou a fúria de um segmento desde sempre agarrado a modos truculentos. O PIB do agro não autoriza a delinquência e o golpismo. Mas é isso o que acontece.
(Na foto lá do alto, a bancada do agro na campanha de Bolsonaro em 2022. Apoio incondicional ao meliante que tentaria ficar no poder por meio de golpe de Estado).