A urna eletrônica é inviolável, mas a fraude eleitoral pode ser consumada por outros caminhos. Uma via alternativa é a compra de votos, que pode ocorrer por diferentes modos. O cadastro de eleitores é um clássico, um modelo de trambicagem muito anterior à biometria e ao sistema de votação pelo computador. O avanço trazido pela tecnologia, claro, não acabou com o mais rudimentar jeito de fraudar eleições.

Nunca houve tanta notícia sobre um tipo de esquema para compra de eleitores como neste ano. Em todo o país, candidatos recorreram à transferência de títulos eleitorais para seus redutos políticos. Segundo a Folha de S. Paulo, mais de 700 cidades pelo Brasil tiveram aumento de no mínimo 10% no número de eleitores – um índice fora da curva. Nos casos mais aberrantes, esse índice passa dos 40%. Calamidade a céu aberto.

A única explicação é que se trata de uma migração fake, apenas para vender o voto. No levantamento feito pela Folha, três municípios alagoanos aparecem com destaque: Satuba, Barra de Santo Antônio e Japaratinga. Em 2024, essas metrópoles viram o número de eleitores crescer acima dos 20%. Resultado: o número de eleitores, segundo a Justiça Eleitoral, é maior do que a população aferida pelo Censo do IBGE. 

Há outros municípios em Alagoas com mais eleitores registrados do que habitantes – Jaramataia, Jacuípe e Minador do Negrão, por exemplo. Os dados suspeitos no país se referem exclusivamente à transferência de domicílio – a expedição de novos títulos para quem completou 16 anos não entra na conta. Como estancar esse crime?

A Polícia Federal está em campo, com investigações de norte a sul. Em alguns casos, já há decisões judiciais de primeira instância para anular o resultado de eleições. Algumas situações absurdas no Rio de Janeiro apareceram em ampla reportagem do Fantástico. Uma revisão geral de eleitores é o mínimo a ser feito no ano que vem. Para começar. 

Não se sabe se há apuração em andamento em Alagoas. Deveria. Afinal, pelo que já se descobriu, a suspeita é de que estamos diante de uma fraude generalizada envolvendo centenas de municípios no país. Junte-se a isso os casos de desvio do fundo eleitoral, praticado por uma multidão de candidatos vigaristas, inclusive em Maceió.

Justiça Eleitoral e PF precisam avançar nas investigações. Há delinquentes por aí festejando a conquista de um mandato obtido na base de tramoias criminosas.