Desde o caso de Tancredo Neves, o estado de saúde do presidente da República alterou a postura da imprensa ao acompanhar e noticiar eventual piripaque do mandatário do país. Como se sabe, em 14 de março de 1985, na véspera de tomar posse do cargo após eleição indireta pelo Congresso Nacional, Tancredo foi internado às pressas no Hospital de Base do Distrito Federal. José Sarney, o vice, recebeu a faixa que seria do titular.
Nada de grave, disseram os médicos. “Doutor Tancredo” estaria de volta em poucos dias para exercer o cargo na plenitude de suas condições físicas e mentais. Uma foto publicada mostrava o paciente cercado pela equipe médica, como se estivesse em boa recuperação. Mas a imagem, embora verdadeira, passava uma mensagem que era, na gramatologia de hoje, uma tremenda fake news. Tancredo morreu em 21 de abril.
Nos meses seguintes, várias informações, até então desconhecidas, atestaram que houve uma inacreditável bagunça no tratamento do presidente eleito que não chegaria a subir a rampa do Planalto. O hospital de Brasília mais parecia um açougue, com instalações em obras e uma infraestrutura sucateada. Hoje, parece até piada. O político chegou a ser transferido para o Hospital das Clínicas de São Paulo, mas já era tarde.
A agonia de Tancredo está retratada no filme O Paciente, dirigido por Sérgio Rezende, lançado em 2018. Com o gigante Otton Bastos no papel do protagonista dessa tragédia brasileira, a obra é irregular, mas vale conferir. Vê-se a bateção de cabeça entre doutores que, em alguns lances, estão mais preocupados com holofotes do que com a gravidade da situação. Negligência e até uma dose de amadorismo decretaram o desfecho.
Corta para dezembro de 2024. O caso do paciente Lula não tem nenhuma semelhança com o de Tancredo Neves. Vigaristas da política, e na imprensa também, tentam tumultuar as coisas com mentiras sobre a postura da equipe médica do petista. Não cola. O país toma conhecimento do quadro real, sem margem para dúvidas.
Nesta sexta-feira, apareceram as primeiras imagens de Lula após a cirurgia a que se submeteu no Hospital Sírio-Libanês. Ele caminha pelos corredores, conversa naturalmente e demonstra firmeza. Deve retornar a Brasília no começo da semana. Não há mistério nem encenação sobre seu diagnóstico. Transparência é tudo.