A eleição para o novo presidente da Câmara dos Deputados ocorre apenas em fevereiro do ano que vem. Mas, a meses do voto, até as pedras já conhecem aquele que deve assumir o cargo. O escolhido será Hugo Motta, parlamentar que representa a Paraíba no Congresso Nacional. E quem diabos é esse ungido que sai diretamente do anonimato para comandar um dos poderes da República? A resposta não tem mistério.
Aos 35 anos de idade, Motta já está no quarto mandato em Brasília. Filiado ao Republicanos, depois de passar mais de uma década no MDB, ele virou o candidato de Arhur Lira, o alagoano disposto a tudo para fabricar um sucessor que lhe seja obediente. A virtual conquista do paraibano se deve ao amplo arco de alianças que sustenta sua candidatura. Petistas, bolsonaristas e marcianos se juntaram para eleger o rapaz.
Surpresa não é, mas não deixa de ser exótica essa adesão geral a um nome inexpressivo para chefiar uma das casas do parlamento brasileiro. Qual é a lógica? Com tanta gente no primeiro time da política nacional, parece esquisito que um irrelevante seja promovido ao topo da pirâmide. Mas é assim mesmo. A turma não quer fortalecer quem já é forte; prefere alguém teoricamente mais frágil, apto a acomodar demandas paroquiais.
Antes de virar o poderoso chefão na Câmara, Arthur Lira também era só um nome no meio da multidão. Sua habilidade para conchavos e acordos secretos é incontestável – algo apontado como grande qualidade na política. Não é por outra razão que ele vai emplacando seu escolhido do jeito que sempre quis. Claro que, uma vez no cargo, senhor de prerrogativas mil, o eleito pode surpreender. Aí é confusão na certa.
Mas não parece que seja esse o caso de Hugo Motta. Até agora, ele quase não abriu a boca em público sobre a eleição. Nesse sentido, segue a trilha do mestre. Lira presidente da Câmara e a vitória antecipada do paraibano consagram a potência do baixo claro, essa massa disforme que parasita qualquer governo. Sim, o governo, porque afinal o pote de ouro está nos cofres do Executivo. Ideologia é diversionismo em rede social.