Se pensarmos em uma árvore-símbolo do litoral alagoano, com certeza o coqueiro será a primeira da lista. Além de deixar nossas paisagens ainda mais bonitas, o coco faz parte da economia alagoana a partir da produção de diversos produtos: leite de coco, óleo de coco, coco ralado e, claro, a deliciosa água de coco, que pode ser industrializada ou, simplesmente, consumida direto do fruto.
No entanto, essas plantas geram muitos resíduos que, se queimados, poluem o meio ambiente e, se descartados irregularmente, se tornam esconderijos para animais peçonhentos. Diante deste problema, alunos da Escola Estadual Professor Rosalvo Lobo, no bairro da Jatiúca, desenvolveram um projeto científico inovador para transformar resíduos de coqueiros em materiais compensados que podem servir para fabricação de móveis e substituir os compensados tradicionais.
Confira a história dos alunos Luciano Santos, Lorraine Araújo e Gabriel Flores que, orientados pela professora de química Tatiane de Omena, se tornaram verdadeiros cientistas ao utilizar o conhecimento para transformar a realidade social e o meio ambiente.
A professora Tatiane contou como surgiu a ideia de trabalhar com resíduos de coqueiros:
“Inicialmente, eu fiz uma proposta aos alunos para desenvolvermos projetos de iniciação científica na escola. A partir disso, começamos a pensar em projetos sustentáveis. Passamos a observar quais seriam os resíduos encontrados na nossa comunidade. Primeiramente, pensamos em fazer compensados de madeira, mas até então não sabíamos ainda qual resíduo utilizar. Então, pensamos no resíduo da amêndoa, da casca da amêndoa. Os meninos começaram a pesquisar, a estudar e até coletar amêndoas lá do Corredor Vera Arruda. Após semanas observando e estudando sobre esses resíduos, verificamos que a quantidade na região não era tão grande, não havia tantos resíduos assim que pudesse prejudicar o meio ambiente. Partimos para novas pesquisas e observamos muitos resíduos descartados na poda de coqueiros do Corredor. Começamos a pesquisar e perguntar aos funcionários da prefeitura tudo sobre esses resíduos: onde era descartado, como era descartado, a quantidade de resíduos gerados por dia, quantidade de coqueiros podados… com essas informações despertamos para trabalhar com este resíduo.”
Para a realização do projeto, os alunos foram os protagonistas em todas as etapas, desde a revisão bibliográfica, analisando artigos científicos sobre o assunto, até a coleta e produção do compensado.
Batizado de “Emmacoque”, em alusão ao famoso coqueiro “Gogó da Ema” da praia da Ponta Verde, o projeto surgiu a partir da disciplina chamada Laboratórios de Práticas Experimentais. O Emmacoque, além de ser apresentado na própria escola para os colegas e professores, ele foi inscrito no Sinpete (Semana Institucional de Pesquisa, Tecnologia e Inovação na Educação Básica), promovido pela Universidade Federal de Alagoas e também no MOCITE (Mostra Científica de Inovação, Tecnologia e Engenharia), evento da Escola Professora Izaura Antonia de Lisboa, com apoio da ABRITEC - Associação Brasileira de incentivo a Tecnologia e Ciência, na cidade de Arapiraca.
A professora Tatiane disse também que, no MOCITE, os alunos conquistaram o primeiro lugar na categoria de ciências ambientais. Isso credenciou o projeto para ser apresentado na maior feira de ciências do Brasil, a Mostratec, que acontecerá em 2025, no estado do Rio Grande do Sul.
“Essa experiência ainda na educação básica, com projetos de iniciação científica, fará com que eles cheguem com uma bagagem boa para o ensino superior. Então, no trabalho de iniciação científica, eles vão aprender a estudar a partir de artigos científicos, fazer estudos bibliográficos de um determinado problema, discutir esses resultados mediante gráficos e tabelas, e apresentá-los”, afirmou a professora orientadora.
Tatiane disse ainda que o projeto serve de inspiração para outros alunos.
“A gente apresenta esses projetos em feiras, até na própria escola, e serve como um incentivo para os demais alunos que têm intenção de participar de pesquisa. Então, é muito importante para o currículo dos alunos que participam e também para a comunidade, porque estamos observando os problemas e conseguimos colaborar de certa forma para que esses problemas sejam solucionados", completou.
Luciano Santos, um dos alunos envolvidos, comentou sobre as dificuldades iniciais para o início dos trabalhos.
“Um dos maiores desafios, no começo, foi não ter um equipamento totalmente apropriado. Tivemos que aperfeiçoar alguns equipamentos como, por exemplo, triturar em um liquidificador industrial.”
Ele também relatou o sentimento de alegria por desenvolver o projeto com os amigos e contribuir para o meio ambiente.
“Me senti bem sabendo que estava apresentando algo que desenvolvi com meus amigos. Foi uma experiência única poder apresentar o projeto em outros lugares. E muitas pessoas gostaram, e não só gostaram como também deram dicas para aperfeiçoamento”, disse o aluno.
“É muito importante, não apenas para a sociedade, mas também para o meio ambiente, em geral. Visto que, pode conscientizar as pessoas a não fazerem um descarte inadequado do resíduo e também estimular a produção do compensado, gerando trabalho para as pessoas”, completou.
O estudante Gabriel Flores disse que os resultados dos testes realizados foram surpreendentes e comprovaram a eficácia do projeto: “O mais satisfatório foi o resultado. Conseguimos transformar a palha de coqueiro, um material grande e descartado por muitos, em uma tábua de qualidade. Além disso, o material é impermeável. A combinação de nossa cera e breu cria uma barreira que impede a absorção de água, tornando o compensado mais resistente e durável”, reforçou.
Ao apresentar o trabalho fora do ambiente escolar, Gabriel admitiu que enfrentou certa dificuldade no início. “Estava um pouco nervoso, mas com o tempo percebi que não era tão complicado assim. Perdi o medo, e as pessoas gostaram muito do que fizemos”, revelou.
O estudante destacou ainda a relevância social e ambiental do projeto. “Reduzimos o acúmulo de resíduos que causam impactos ambientais, como as queimadas, e criamos a possibilidade de gerar empregos com a fabricação desse produto. É um material que as pessoas simplesmente queimam, mas nós o transformamos em algo de qualidade e durável. Seria ótimo levar isso para mais pessoas”, concluiu Gabriel.
Sobre os resultados mais satisfatórios, a aluna Lorraine Araújo destacou a característica impermeável do compensado: “Acredito que os resultados que obtivemos com os impermeabilizantes e o teste de absorção de água foram os mais satisfatórios”, disse.
Ela completa: “Participar desse projeto e assistir a outros, me deu vontade de seguir uma carreira que seja quase da mesma forma. Penso muito em fazer engenharia química, eu gosto bastante da área.”
*Estagiário sob supervisão da editoria.