Uma pesquisa realizada na Universidade Federal de Sergipe (UFS) revela um dado alarmante: 53,3% das crianças brancas nunca conversaram sobre racismo com seus pais. O estudo, conduzido pelo Dr. Ueliton Santos Moreira Primo, investigou como pais de crianças entre 5 e 7 anos abordam a questão racial em casa.
A pesquisa, que venceu o “2º Prêmio Ciência pela Primeira Infância”, do Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI), contou com a participação de 140 mães e pais, com idades entre 22 e 58 anos.
Os resultados apontam para um contraste preocupante: enquanto a maioria dos pais de crianças pardas (64,7%) e pretas (56%) relatam conversar sobre racismo com seus filhos frequentemente, mais da metade das crianças brancas nunca tiveram essa conversa com seus pais.
“Uma das motivações para esses pais evitarem o diálogo é acreditar que não é um assunto relevante para suas crianças. Mas discutir racismo, discriminação e branquitude precisa fazer parte da educação das crianças. Quando elas são incentivadas a apreciar a diversidade étnico-racial desde cedo, elas se tornam mais respeitosas, tolerantes e sensíveis à luta antirracista”, comenta Ueliton Santos.
O estudo identificou, ainda, que pais e mães de famílias brancas sentem dificuldade em abordar o assunto e acreditam de que crianças são muito novas para compreender a complexidade do racismo. No entanto, evidências científicas mostram que a discriminação racial produz uma série de efeitos negativos desde a primeira infância, afetando a autoestima e o acesso a oportunidades de crianças negras, entre outros prejuízos.
Caminhos para o futuro
Diante desse cenário, a pesquisa propõe soluções para fortalecer a educação antirracista nas famílias:
· Diálogo aberto e honesto: Pais e responsáveis devem conversar com seus filhos sobre as diferenças raciais, promovendo o respeito à diversidade e combatendo a discriminação.
· Representatividade e autoestima: É fundamental apresentar às crianças referências positivas de pessoas negras e indígenas em diversas áreas, como na história, cultura, ciência e política.
· Inclusão e amizades multirraciais: Incentivar a inclusão e as amizades entre crianças de diferentes origens raciais contribui para a desconstrução de preconceitos e promove a convivência harmônica em uma sociedade plural.
Para que a educação antirracista seja efetiva, a pesquisa recomenda, ainda, a implementação de políticas públicas e programas de educação parental que auxiliem as famílias a abordarem o tema do racismo com seus filhos. Ações como workshops, rodas de conversa e materiais educativos podem fornecer as ferramentas necessárias para que pais e responsáveis se sintam mais preparados para promover a educação antirracista.
“É fundamental também que o governo invista em campanhas de conscientização sobre a importância do combate ao racismo desde a primeira infância. Essa é uma responsabilidade coletiva e exige a participação de famílias, escolas e governo para garantir um futuro mais justo e equitativo para todas as crianças”, finaliza Ueliton.