Agora em novembro, dia 13, completou oito anos que meu irmão mais novo, Bruno, morreu. Fui ao cemitério com minha mãe, levar flores e conversar um pouquinho com ele.
A manhã estava clara, o vento fresco e o chão coberto de flores, principalmente cor de rosa e amarelas.
Sentei na grama, em frente à lápide, coloquei as flores (brancas), retirei as outras que estavam mortas e arrumei um jarrinho que ainda resistia. Devia ter sido colocado lá poucos dias antes.
Enquanto falava sobre as novidades, lembrei que certa vez me perguntaram a razão desse ritual, já que ele, o Bruno, não estava mais lá.
Eu sei que ele não está lá, sei que é simbólico, mas chega a ser terapêutico e me faz bem imaginar poder - ainda - visitá-lo.
É bom levar flores "novas", sentar na grama, jogar conversa fora e sentir que, à medida que os anos passam, a saudade continua, mas a gente se acostuma melhor a conviver com a dor.
Ainda sobre simbolismos, essa visita me lembrou de outra coisa... Uma bolsinha amarela que era dele e foi entregue para mim no momento que ele foi levado para a UTI.
O texto, publicado em 2020 (@vanessa_alencar) fala um pouco sobre isso:
Cinco minutos e a bolsa amarela
Quando ele entrou na UTI, o enfermeiro entregou a mulher uma pequena bolsa amarela, na qual estavam todos os inúmeros colírios que o irmão usava. Entregou também o par de sandálias.
Enquanto esperava qualquer notícia, qualquer sinal, por trás da porta por onde ele passou, agarrava náufraga a bolsa amarela e apertava as sandálias contra o peito.
Depois de algum tempo, veio um enfermeiro - ou um anjo, talvez - e lhe disse: porque não espera lá fora? É mais ventilado e deve ter pessoas aguardando você.
- Mas estou com as coisas dele pra entregar.
- Você entrega quando ele sair, não é melhor?
Ela saiu. Ele não.
Não sabe o que foi feito das sandálias, mas quase quatro anos depois, ainda guarda a bolsinha amarela com todos os colírios vencidos. É como se, ao não se desfazer deles, pudesse protelar a despedida.
A bolsa amarela é a âncora frágil que lhe prende a esperança de devolvê-la ao dono, que não precisa mais dela.
Mas assim como o irmão, a mulher era também do signo de Virgem. Nascidos quase no mesmo dia, eles detestavam quebrar promessas, detestavam promessas quebradas.
Sim, ela já "superou" o luto. Mas tem dias que queria mesmo poder devolver a bolsinha inútil, só como desculpa para ter mais cinco minutos com ele.
Porque ele era do signo de Virgem com ascendente em "tem coisas que só ele entenderia". Para isso, bastariam cinco minutos.
P.S: oito anos depois, a bolsa segue guardada.