Febre, cansaço, calafrios, dor de cabeça e no corpo, ínguas, bolhas e feridas na pele são sintomas da Mpox, doença viral que afeta seres humanos e outros mamíferos, identificada pela primeira vez em macacos, em 1958, e , em 1970, na República Democrática do Congo.

O vírus apresenta duas cepas: a cepa da Bacia do Congo, na África Central, e outra da África Ocidental. Tem três variantes reconhecidas do vírus: O Clado la, presente na Bacia do Congo, com mortalidade de até 10% e transmitida por roedores e com pouca propagação em humanos; o Clado IIa, presente na África Ocidental e com baixa mortalidade; e o Clado IIb, que provocou o surto de 2022. Já a nova variante, Clado Ib, parece ter se espalhado de forma mais fácil por meio de contatos próximos rotineiros, como entre crianças.

Qualquer pessoa que tenha contato físico próximo com alguém doente está em risco de ter a doença, que não está limitada a indivíduos sexualmente ativos, como muitos acreditam. Recém-nascidos, crianças e pessoas imunossuprimidas correm maior risco de sintomas mais graves, além dos profissionais de saúde, que podem adquirir a doença devido  maior exposição ao vírus

De acordo com o Ministério da Saúde, entre 2022 e 2024, mais de 63.270 casos da doença foram registrados nas Américas. No Brasil, de janeiro a setembro de 2024, foram confirmados 1.015 casos de Mpox. O número supera o total de casos notificados ao longo de todo o ano passado, quando foram contabilizados 853. Há ainda 426 casos suspeitos da doença.

No início deste mês, o MS e a Anvisa ( Agência Nacional de Vigilância Sanitária) começaram a emitir alertas sanitários sobre o Mpox em portos e aeroportos  brasileiros, para minimizar o risco da entrada de novas variantes no país.

Em Alagoas, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) informou que o primeiro caso de Mpox registrado no estado foi em agosto de 2022. Até esta quinta-feira (7) foram confirmados 27 casos da doença em Alagoas, sendo 11 infectados do sexo feminino  (11% do total) e 24 do sexo masculino (89%).

Ainda de acordo com a Sesau, 22 dos casos foram registrados em 2022, quatro em 2023 e um em maio de 2024. Destes, 19 ocorreram em Maceió e dois em Murici. Atalaia, Viçosa, Rio Largo e Santana do Ipanema, registraram um caso cada.

 

A infectologista Sarah Dominique Dellabianca, professora do curso de Medicina da Unit Alagoas
A infectologista Sarah Dominique / Foto: Arquivo

 

Em entrevista ao CadaMinuto, a infectologista Sarah Dominique explica a transmissão, sintomas, medidas de prevenção e demais informações sobre Mpox.

Confira a entrevista:

 O que é Mpox e qual sua origem? Ela pode ser considerada uma IST (Doença Sexualmente Transmissível)?

É uma doença aguda, a causa é o vírus da varíola dos macacos (Monkeypox vírus). Pertencente à família Poxviridae.  Identificado pela 1ª vez em macacos de laboratório em 1958, mas sua origem natural está em roedores (ratos), principais reservatórios.  Por isso, é importante não estigmatizar que a doença vem dos macacos. Importante esclarecer, que é considerada uma IST, sim. Um dos principais modos de transmissão, nos recentes surtos,  é a relação sexual. No entanto, a transmissão não é exclusivamente sexual, podendo ocorrer por outras vias.

Quais os sintomas e quando eles surgem? Como são as lesões características da doença?

Febre, fadiga, dores musculares, dor de cabeça (cefaléia), linfonodos inchados (ínguas), ferias (lesões cutâneas). Os sintomas surgem no decorrer de 1 a 5 dias do surgimento da febre. As feridas progridem em estágios que começam através de manchas vermelhas, se tornam pápulas (carocinhos), vesículas (líquido claro),  pústulas (líquido purulento) e depois formam as crostas (casquinhas), as quais caem.  As lesões na pele costumam ser dolorosas e podem ocorrer em qualquer parte do corpo, incluindo na região genital e  próximo ao ânus.  

A doença é contagiosa? Quais as formas de transmissão?  

Sim, extremamente contagiosa. As principais formas de transmissão incluem:  contato direto com lesões da pele de alguém doente, crostas ou fluidos corporais, contato próximo prolongado, especialmente em relações sexuais, inalação das gotículas respiratórias (conversa, tosse, espirros),  superfícies contaminadas (roupas, toalhas, lençóis...) e de mãe para filho (gravidez ou parto).

Como é a prevenção e os cuidados?

Evitar contato direto com pessoas infectadas e suas lesões, não compartilhar objetos de uso pessoal, abstinência sexual ou uso de preservativos, evitar múltiplos parceiros sexuais, higienizar superfícies e lavar as mãos frequentemente, uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) pelos profissionais da assistência à saúde.

Qual o tratamento indicado e em que momento deve-se procurar um médico?

Não há tratamento específico. Embora exista o antiviral Tecovirimat, que pode ser usado em casos graves.  Desta forma, o planejamento terapêutico consiste em tratar os sintomas com analgésicos e antitérmicos, hidratação e cuidados com as lesões. Deve-se procurar um médico se houver lesões cutâneas características, febre, contato com caso suspeito,  dificuldade respiratória ou sintomas graves.

A doença pode deixar alguma sequela? Pode matar?

Na maior parte dos casos ela é benigna, autolimitada e sem complicações. Contudo, podem ocorrer cicatrizes permanentes nas áreas das lesões da pele como na catapora. Algumas complicações são as infecções secundárias, pneumonia, sepse etc. A taxa de mortalidade é baixa (1% nos surtos recentes), mas aumenta em pessoas imunossuprimidas.

Em relação à vacina, ela deve ser tomada de forma preventiva ou pode ser tomada se a pessoa estiver infectada?

A vacina contra a varíola tradicional (Imvanex/Jynneos) é eficaz contra a Mpox.  Indicada para pessoas em alto risco, como profissionais de saúde ou pessoas que têm múltiplos parceiros.  Em situações de pós-exposição pode ser administrada em até quatro dias após o contato, para prevenir a doença ou reduzir sua gravidade. Não é indicada para quem já apresenta sintomas.