Luiz César da Silva, um jovem de 23 anos, conhece bem as dificuldades da vida no sertão alagoano, onde nasceu e cresceu. Com a missão de transformar sua comunidade e oferecer melhores condições de vida para a juventude rural, ele dedica sua trajetória à educação e ao combate à intolerância.
Em entrevista exclusiva ao Folha de S. Paulo, Luiz César afirmou: "Costumo dizer que nasci avexado. É como a gente fala no Nordeste quando alguém é agitado, impaciente. Tenho pressa de transformar o mundo em um lugar melhor."
Aos 12 anos, cansado de enfrentar as dificuldades diárias — como as longas caminhadas de 15 km até a escola — e as chacotas dos colegas, Luiz se organizou com outros jovens para reivindicar transporte escolar gratuito. Após várias tentativas frustradas, e mesmo com o desdém das autoridades locais, a luta coletiva trouxe resultados. "A educação ajudou a me aceitar, me trouxe consciência, me fez enxergar as pessoas marginalizadas e me fortaleceu a seguir lutando para garantir nossos direitos", disse ele.
Formado em geografia pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Luiz reside no sítio Pedra Miúda, uma localidade isolada na zona rural de Mata Grande, onde dedica seu tempo a projetos sociais voltados à educação e ao fortalecimento das comunidades quilombolas. “Venho de uma comunidade quilombola, rural, sou um sertanejo que sonha em construir uma sociedade na qual racismo, preconceito e homofobia não sigam sendo tão tóxicos como nos dias de hoje”, afirmou.
Ele acredita que a única forma de combater a exclusão social e econômica que afeta a região é por meio de uma educação de qualidade, acessível a todos os jovens, independentemente de onde vivam. “Eu me agarrei logo a ela [a educação] como instrumento de transformação. Não queria que o meu futuro fosse semelhante ao de meus pais, que não terminaram nem o ensino fundamental”. Para ele, cada jovem que tem a chance de estudar é uma semente plantada para mudar não só a própria vida, mas também a realidade das futuras gerações.
Em sua jornada, Luiz tem se dedicado a criar projetos e ações que garantam acesso à educação em áreas remotas, como os povoados da zona rural de Mata Grande. Ele entende que, para isso, é necessário envolver toda a comunidade, incluindo escolas, professores, vereadores e até autoridades de segurança, como a polícia. “Nosso objetivo é atuar em colégios dos povoados, com palestras, rodas de conversa e debates. Queremos que os alunos aprendam a questionar e apresentem suas propostas para que as autoridades possam executá-las."
Atualmente, ele trabalha na prefeitura de Mata Grande, onde tem conseguido formar uma rede de apoio e mobilizar as autoridades locais para criar políticas públicas voltadas para a juventude rural. "Dói em mim saber que existe muito jovem a ser alcançado em outras comunidades rurais do alto sertão alagoano. E me frustra ver amigo, parente deixar o campo", conclui.
*Com Folha de São Paulo