A decisão do governador Paulo Dantas (MDB) de permanecer no comando do Executivo estadual até o final de seu mandato, não se desincompatibilizando para concorrer ao Senado Federal ou a uma das cadeiras da Câmara dos Deputados ainda repercute nos bastidores.
Como já disse aqui ao abordar o assunto, repito: não sou muito de acreditar no que políticos dizem, mas sim naquilo que eles fazem com os meios que possuem nas mãos e o tamanho que possuem diante das conjunturas nas quais estão inseridos.
Neste sentido, Dantas se mostrou – para chegar ao cargo de governador – um disciplinado homem de grupo, assumindo as missões que lhe couberam, inclusive a de ter sido “governador-tampão” dentro de um acordo não costurado por ele, mas pelo presidente da Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas, o deputado estadual Marcelo Victor (MDB).
Marcelo Victor – de forma hábil – enxergou o vácuo de um ninho emedebista onde nada cresce para a além da sombra dos “Renans” – Calheiros pai e Calheiros filho: os senadores. Esse vácuo, ao fim da gestão do ex-governador Renan Filho (MDB), fez com que os emedebistas não tivessem, naquele momento, um nome forte para ser o sucessor. O parlamento soube ocupar essa posição e tirar o seu coelho da cartola, transformando um deputado até então inexpressivo em governador do Estado.
Em contrapartida, o governo atual de Dantas – por mais que o governador tenha conseguido construir uma identidade e até tenha um partido para chamar de seu (o PSB) – é uma gestão de muitas mãos, o que inclui as de Marcelo Victor, de Renan Calheiros e de Renan Filho. Dantas possui seus nomes de extrema confiança, como o secretário de governo Vitor Pereira, e soube estruturar um partido como rota alternativa, mas sabe de seu atual tamanho dentro do grupo político no qual se encontra.
Dantas é o governador. Soube criar sua identidade. Mas não soube ser cacique. Não lidera o processo, nem consegue ser uma rota alternativa dentro de um xadrez em que as forças que conduzem o processo são maiores que ele.
Sendo assim, os espaços para o seu futuro político enfrentam uma peça no xadrez que é imprevisível: esta é o vice-governador Ronaldo Lessa (PDT) que, em caso de assumir o governo estadual em uma desincompatibilização de Dantas, pode tomar rumos diferentes do que desejam os caciques. Então, sim: é difícil confiar plenamente em Ronaldo Lessa. Afinal, ele poderia até mesmo ser candidato à reeleição, não deixando o cargo, como é provisionado na legislação eleitoral.
A trajetória política de Lessa é marcada por imprevisibilidades. O vice-governador já esteve de um lado, já esteve do outro, já foi próximo do ninho emedebista, já se distanciou, já foi vice do prefeito João Henrique Caldas, o JHC (PL), já ocupou espaços na gestão de Renan Filho, já saiu atirando, enfim...
Com Lessa governador, os figurões do parlamento estadual – sempre ao redor de Marcelo Victor – não teriam em suas mãos a possibilidade de eleger um novo governador-tampão, dando um “reset” em um jogo que já fez de Dantas o mandatário do Palácio República dos Palmares.
Isso reduz o universo de ações possíveis para Paulo Dantas, que tem também que corresponder a um grupo. É válido lembrar que Paulo Dantas não investiria tanto no PSB por nada. Então, não enxergo que permanecer até o final de sua gestão era uma decisão já tomada desde sempre. Ela é fruto – neste momento – de um somatório de circunstâncias.
Dantas, ao permanecer no governo, garante o estofo necessário a seu grupo político – para ter uma chapa forte em 2026 para que o MDB busque manter sua hegemonia que, nesse momento, conflui com os interesses de muitos dos parlamentares, incluindo Marcelo Victor. Assim, Ronaldo Lessa fica no banco de reservas, tendo no máximo – em função do tamanho de seu partido hoje e dos recursos que possui – a opção de ser candidato a deputado federal ou de uma aposentadoria política.
O “sacrifício” de Dantas pode ser recompensado com a possibilidade do PSB ter um candidato ao Senado. Não por acaso, o governador joga holofotes em Vitor Pereira: um segundo nome que, em tese, não ameaçaria Renan Calheiros numa eleição de duas vagas. Outras recompensas podem surgir para um ex-governador que pode amargar dois ou quatro anos sem mandato? Sim. Por que não?
E se o cenário lá na frente muda e Ronaldo Lessa aceita também sair do cargo? Bem, aí as coisas mudam.
Um cenário político é como nuvens no céu...