Em entrevista publicada na Gazeta de Alagoas, o senador e enxadrista da política alagoana, Renan Calheiros (MDB), demonstra porque é quem é: um animal político hábil capaz de construir declarações sintéticas que camuflam o que de fato ocorre nos bastidores políticos.

O senador emedebista disse, por exemplo, que é precipitado falar do embate que pode ocorrer no futuro, em 2026, entre ele e o deputado federal Arthur Lira (Progressistas), em uma possível briga pelo Senado Federal.

Primeiro: a disputa não é futura, ela já foi antecipada há muito tempo. MDB e Progressistas se tornaram as duas maiores forças políticas do Estado e – caso não haja as chamadas “alianças inesperadas” – seguirão nesta rota de colisão, seja na disputa pelo Senado Federal ou pelo Executivo estadual.

Mas aí vem o segundo ponto: Renan Calheiros sabe que uma eleição não é feita apenas na disputa pelo voto, mas também nos bastidores, quando adversários podem ser eliminados antes mesmo de entrar no ringue. Calheiros e, diga-se de passagem, especialista nisto. Já fez isso com Ronaldo Lessa (PDT), com José Pinto de Luna (na época, ele estava no PT) e até com o atual deputado federal Marx Beltrão (quando este estava no MDB). Enfim, quem tem boa memória lembra…

Foi assim que Calheiros sempre garantiu a sua vaga no Senado, sendo o segundo colocado nas eleições mais recentes, por exemplo, como quando o primeiro colocado foi o senador Rodrigo Cunha (Podemos). Sendo assim, é natural que Renan Calheiros saiba que não se antecipa o cenário em público, mas que se trabalha ativamente pelo melhor cenário em privado.

Logo, quando Renan Calheiros diz que não é precipitado antecipar embates, já que não há nada definido, é porque ele sabe que o segredo é alma do negócio para que os embates sejam antecipados e definidos a seu favor. Gostem ou não de Calheiros, ele é um enxadrista.

Renan Calheiros ainda amenizou as derrotas sucessivas que o MDB sofreu em Maceió. Mas a prova de que ele sabe que o impacto não é tão mínimo assim, é que sabe o peso que seu nome tem junto ao eleitorado maceioense. Talvez, motivo pelo qual não esteve presente na campanha do derrotado Rafael Brito (MDB).

É válido ainda ressaltar que em Maceió, até o senador eleito Renan Filho foi derrotado naquela disputa, quando perdeu – na capital alagoana – para o ex-deputado estadual Davi Davino Filho (Progressistas), tirando essa diferença no interior e sagrando-se vitorioso pelo MDB. É, a capital alagoana virou um gargalo para os emedebistas há muito tempo, com derrotas de Cícero Almeida, Alfredo Gaspar de Mendonça (quando estes dois primeiros estavam no MDB) e Rafael Brito.

Mas, Calheiros busca a memória e diz que o MDB já teve êxitos nessa disputa. É, houve êxito do MDB, com a vitória de Djalma Falcão na década de 80. Renan Calheiros tem razão, um dia houve...

Renan Calheiros, todavia, avalia da seguinte forma: “A natureza da eleição municipal é muito focada na qualidade dos serviços públicos, o que gera um favoritismo para os prefeitos em exercício. Isso é um fenômeno nacional, com pouquíssimas exceções no Brasil”.

Por fim, Renan Calheiros diz que há apelos (o que é verdade) para que o senador Renan Filho dispute pela terceira vez o governo estadual, o que é fruto do trabalho que fez em Alagoas (o que também é verdade), mas o quimérico Renan Calheiros diz que não é apenas o nome de Renan Filho, pois o MDB tem quadros qualificados para as eleições e que a carência de bons nomes não é um drama que ronda o MDB, “mas pode assombrar outras legendas”.

Para Renan Calheiros – portanto – o MDB não enfrenta o drama que fez, nas eleições estaduais passadas, a sigla ter que buscar um candidato na Assembleia Legislativa e construí-lo em conjunto com o presidente da Casa de Tavares Bastos, Marcelo Victor (MDB), fazendo de um parlamentar pouco conhecido o governador do Estado. É, não enfrenta esse drama...

As declarações de Renan Calheiros soam como uma composição fictícia de quem sabe muito bem a realidade, mas tem a habilidade política de falar o que é preciso ainda que não seja necessariamente o que de fato se pensa.