Todos os sábados, exceto na pandemia, mal que assola o mundo, um grupo heterogêneo, constituído por vários segmentos do extrato social, se reúne, para uma cervejinha, na calçada do bar do Né. São comerciantes, corretores, representantes comerciais, e outros, para, através da boa prosa, estabelecer laços e discutir ideias.

A conversa é aberta, franca. Fala-se de tudo: de música, de futebol e política. De velhos amigos que se foram. Fala-se da cidade de ontem, com a beleza da época e dos homens que a fizeram; como a de hoje, bonita, bela, violenta, moderna, e ainda tão carente de algo que nos torne mais satisfeitos. Concordamos, todos, que gostamos e amamos esta cidade. Arapiraca se todos nós.

A calçada do Né, cuja frequência no qual me incluo, é o centro nervoso onde gera ideias e paixões, movidas pela nobreza de sentimentos de cada um, gerando, por conseguinte, a solidariedade uniforme, a amizade consistente, fazendo, não tenho dúvida, o ambiente saudável que faz  bem a saúde dos que a frequentam.

O falar alto, o rir, o satirizar, a jocosidade, o ser grulha, naquele ambiente de pessoas diferentes e convergentes, é o ponto ideal para as tardes de sábado.

O Né, dono do bar, que dificilmente ri, é carismático, em que pese ser carrancudo.  O Né, com suas frases curtas, diretas e sem procurar agradar, é fantasticamente, por paradoxal que seja, uma pessoa encantadora.  Todos nos sentimos em casa.

O “senadinho” do bar do Né, onde sou suplente e aluno, tem lugar para todos. Todos falam e todos ouvem. Não há sábios, nem ignorantes. Lá, há homens sedentos para ouvir e falar, concordar e discordar, buscando, e o fazem como ninguém, a preservação da amizade como bem maior da existência humana.

Aprendo, naquela calçada, aos sábados, que não há sábios, nem intelectuais, nem ignorantes, dentre os seres humanos; todos somos sábios e ignorantes, dependendo da experiência de cada um naquilo que faz e diz.

O bar do Né, lugar rústico e simpático, familiar e sinérgico, faz parte da paisagem cultural de Arapiraca. Cuidado pelos seus donos, é ponto obrigatório dos que desejam uma culinária caseira. Não há luxo. Há acolhimento. Não são rudes, são naturais. O cardápio e sucinto, sem mistério.  A comida é boa. Porém, a sua calçada, aos sábados, é outra coisa. Nela, todos nós, com as nossas idiossincrasias nos reunirmos e nos entendemos.

Aprendo, naquela calçada, que estar feliz custa tão pouco. Tudo regado a boa cerveja e galinha de capoeira.  Os “ senadores”, que são representantes de si próprio e de suas ideias, são amantes da boa cerveja, do bom tira gosto, da boa amizade, e da alegria de viver. São Gilberto Fernandes, Melo, Jadelson Vital, Luiz Carlos, Tourinho, Regis, Edinho,Felício, Rogério lima, Toninho Cancha, Normando Campos, Valderi Carvalho, Chico Novais, Van Ernesto, Flávio Pereira, Luís Alexandre e Genival Silva, Forinho, quando vem de Maceió, e outros saudosistas.