O pleito eleitoral de 2026, os vitoriosos nas eleições deste ano, o “futuro” de alguns políticos locais e o que esperar da próxima legislatura na Câmara Municipal de Maceió. Em entrevista exclusiva ao CadaMinuto, o cientista político, doutor em Ciência Política e professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Ranulfo Paranhos, analisou esses e outros assuntos que seguem no centro das discussões políticas em Alagoas. 

Questionado sobre, afinal, quem foram os maiores vencedores do pleito, Ranulfo afirmou que os dois grupos - do prefeito reeleito JHC e do deputado federal Arthur Lira e dos Calheiros e Paulo Dantas - estão corretos quando um afirma que obteve mais votos e o outro, mais prefeituras. 

“Agora, o que é mais importante para as eleições de 2026? O controle das prefeituras ou a quantidade de votos obtidos em 2024? Maceió é o maior colégio eleitoral, com cerca de 600 mil eleitores, em torno de 30% do eleitorado do Estado. O vitorioso em Maceió controla a maior máquina municipal do Estado e isso faz muita diferença para as eleições de 2026”, pontuou, acrescentando, no entanto, que um candidato ao governo precisa fazer a capilarização da imagem. 

“O grupo dos Calheiros tem 65 prefeituras do MDB e há ainda a possibilidade de manter ou ampliar esse leque, porque tem acordos com prefeitos que pertencem a outros partidos. Isso também pode acontecer com Arthur Lira. Se a projeção for para 2026 é possível que quem saia mais vitorioso seja o grupo dos Calheiros. Mas, se for agora, nesse momento, acho que os dois saem empatados”, analisou.

Paranhos destacou ainda que, hoje, a capital está com o grupo de JHC e Lira, e o interior muito pulverizado, inclusive Arapiraca, onde o prefeito reeleito, Luciano Barbosa, é do MDB. “O MDB que não é totalmente MDB e que agradeceu em discurso de vitória ao Arthur Lira. Então tem muita água para rolar debaixo dessa ponte. Mas  acho que os dois grupos estão corretos. Um em afirmar número de prefeituras e o outro em afirmar número de votos”, reforçou.

Governabilidade garantida

Em relação à Câmara de Vereadores, o cientista político entende que JHC não deve enfrentar dificuldades e, provavelmente, irá ampliar sua base de apoio:

“Ele fez da própria base, do próprio PL, um número já significativo, 40% dos vereadores, e normalmente um executivo precisa de 50% mais um para implementar uma agenda média. Quando o prefeito fizer a coalizão, que é o convite a vereadores de outros partidos para integrar a base do governo, ele vai ampliar o número de votos na Casa Legislativa, então governará com folga, como fez nos últimos quatro anos”.

O professor acrescentou que o prefeito não deve ter dificuldades com a oposição, até porque não se sabe ainda “até que ponto essa oposição se comportará assim. Então, há uma possibilidade também de negociação com a própria oposição, dependendo da votação”.

JHC X Renan Filho

E se a disputa em 2026 fosse entre JHC e o ex-governador Renan Filho? Sobre essa pergunta, Ranulfo analisou os “dois discursos” que se enfrentariam. 

“JHC é prefeito, fez campanha local. Renan Filho é conhecido no estado inteiro, foi governador por oito anos, tem serviços prestados como governador, é ainda muito bem avaliado, tem um grupo político sólido, tem hoje um número maior de prefeituras, cujos prefeitos, a partir do ano que vem, podem apresentá-lo como candidato ao governo do Estado de novo, e entraria em campanha com recursos, inclusive recursos da máquina pública do governo do Estado”. 

Por outro lado, ele entende que JHC irá depender de Arthur Lira para se capilarizar pelo interior, para ser apresentado a prefeitos e vereadores, fazer campanha “e dizer: o que eu fiz em Maceió, posso reproduzir no Estado inteiro, mas Renan Filho pode dizer: eu já fiz pelo Estado e posso continuar fazendo”.

Arranjo improvável

Outra possibilidade que tem sido debatida nos bastidores, uma dobradinha entre Renan Calheiros e Arthur Lira para o Senado, é, no entendimento de Paranhos, um arranjo “improvável”, por conta do acordo entre JHC e Lira. 

“Se isso ocorresse, para onde iria JHC em 2026? Vai ser o candidato também do Renan? Acredito que não. Vai ser candidato isolado sem o Arthur Lira? Não sei, ele teria que romper com Lira aí entraríamos em uma questão à parte, que o grupo do Arthur Lira e do JHC, é um grupo com dois líderes. De um lado, o prefeito, muito bem avaliado, bem votado, com a aprovação muito alta, se projetando para 2026. Do outro lado, o Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, um dos homens mais fortes da República, que não terá esse poder todo em 2026, mas cujo PP, o seu partido, tem 26 prefeituras e uma aliança com o segundo maior colégio eleitoral do estado que é Arapiraca, onde foi o mais votado da última eleição”.

Reforçando que, olhando para a eleição do Senado, a dobradinha Renan e Arthur lhe parece improvável, Ranulfo prosseguiu dizendo que “a grande vantagem de se trabalhar com política, é que o imponderável está sempre na esquina. Então, a gente sempre pode encontrar o imprevisto, nada impede. Algumas portas ficaram fechadas por conta dos debates muito acirrados, Mas nada impede que elas sejam reabertas em nome da política.”.

De senador a vice-prefeito

Por fim, o professor analisou ainda as prováveis possibilidades no horizonte político do senador Rodrigo Cunha, eleito vice-prefeito da capital:

“Ele está saindo da condição de senador da República, um entre os 81 nomes mais importantes da nação, um cargo de oito anos, para assumir um cargo de vice-prefeito em uma capital de 600 mil eleitores. É lógico que ele está fazendo isso porque está cumprindo o acordo e porque em 2026 é muito provável que JHC se desincompatibilize, se candidate ou ao Senado ou ao Governo do Estado e Rodrigo Cunha terá dois anos à frente da Prefeitura de Maceió”.

Para o cientista político, se Rodrigo Cunha assumir a prefeitura e conseguir entregar algumas das obras prometidas por JHC na campanha, a exemplo do BRT, para resolver problema de mobilidade urbana, passa a ser, assim como JHC, um prefeito bem avaliado.

“É impensável um senador deixar o cargo para ser vice de uma capital. É impensável instantaneamente, mas se você pensar jogadas na frente, ser prefeito da capital talvez seja tão bom quanto ser senador ou melhor, porque o executivo tem poder discricionário sobre verba, ou seja, ele direciona para onde vão as verbas e pode executar obras, e isso faz com que o nome cresça muito. Ao contrário do legislativo, que ao criar leis, ao aprovar emendas, tem um esforço maior em traduzir isso em votos, em tentar convencer a população de que ele é pai, partícipe  de qualquer obra... O prefeito é sempre o mais lembrado. Então, eu acho que o futuro do Rodrigo Cunha é ser vice-prefeito a partir do ano que vem e depois prefeito, mas, até a condição de prefeito, a gente não sabe o que vai acontecer”, finalizou.