Novos tempos, novas expressões, velhas ideias. Se as coisas mudam e o mundo se transforma, é inevitável que a fala cotidiana reflita as mudanças no calor da hora. Na era do metaverso e da plutocracia digital, todos os dias surgem termos para designar o que acaba de chegar à praça. É assim no campo do comportamento, é assim na política. O desafio é detectar o que de fato é novo e o que não passa de tolice requentada.
Nas campanhas eleitorais Brasil afora, aspirantes a prefeito e a vereador descobriram o milagre do empreendedorismo. Três em cada dois candidatos disseram ter projetos para incentivar o eleitor a empreender. De Pablo Marçal a Guilherme Boulos, de João Campos a Marina Helena, a ideia atacou pela esquerda e pela direita. Um arrastão com esse apelo não está nem aí para ideologia. De um extremo a outro, o triunfo da retórica.
Quando eu estava nos bancos da universidade, décadas atrás, era a turma progressista que combatia o “sistema”. Agora, décadas depois, Bolsonaro, Marçal e Cristina Graeml juram por Jesus que são políticos “antissistema”. Graeml foi jornalista da Globo no Paraná e disputa o segundo turno na eleição para a prefeitura de Curitiba. Uma delirante, golpista e adepta de teorias da conspiração – mais bolsonarista que o próprio Bolsonaro.
Na mesma linha, estão a expressão “conservadorismo” e seus parentes gramaticais. Reza a lenda que a juventude era sinônimo de rebeldia e insatisfação com as tradições. Agora, em todo canto se vê alguma reportagem com a história de algum “jovem conservador” campeão de votos nas eleições. Aqui, suspeito que estamos diante do velho fenômeno conhecido como saída do armário. Reacionário não tem idade.
Uma das expressões que parece realmente nova é a classificação “pobre de direita”. E é uma invencionice das mais problemáticas. Uma multidão de intelectuais e jornalistas tenta decifrar o que seria uma contradição mortal. De tanto replicada no campo da esquerda, acaba de virar título do novo livro do equivocado sociólogo Jessé Souza. Por suas obras anteriores, o professor troca a análise pela escancarada militância.
Não faz sentido a ligação – direta e automática – entre escolhas políticas e a conta bancária do eleitor. Não assim, de modo tão maniqueísta. Se o buraco é mais embaixo, e a vida não tem explicação, “pobre de direita” tenta embrulhar a complexidade em postulados mambembes. Nos casos mais graves, estamos diante de puro preconceito daqueles que ainda defendem que os iluminados iluminem as massas ignaras. Não dá.
As novidades aparentes vão muito além, é claro, dos exemplos sobre os quais vou acabando de escrever o que você está lendo. Como disse, a cada amanhecer parece que novos conceitos e ideias estão batendo à porta. Mas, olhando bem, quase tudo é fraude.