O Brasil saiu das urnas mais à direita, avaliam quase todos os analistas que escrevem na grande imprensa. No primeiro turno das eleições municipais, o PSD de Gilberto Kassab elegeu o maior número de prefeituras pelo país. É direita ou centrão? Uma classificação assim definitiva não dá conta da complexidade do mundo real – seja em panoramas eleitorais ou em qualquer outra esfera da vida pública nacional.

Na trama de versões e narrativas, lideranças à esquerda contestam a ideia de que Lula, o PT e aliados seriam os grandes derrotados das urnas abertas há uma semana. Para isso, entre outras coisas, argumentam que a legenda petista conquistou o comando de mais municípios em relação à catástrofe iniciada em 2016 e aprofundada em 2020. A sigla está no segundo turno em quatro capitais: Fortaleza, Natal, Cuiabá e Porto Alegre. 

Mas o que pode aliviar a situação para o chamado campo progressista é uma vitória de Guilherme Boulos na briga pela prefeitura de São Paulo. Sem um nome competitivo para a disputa, o PT abriu mão da cabeça de chapa e escolheu o deputado federal do PSOL para a missão de encarar o atual prefeito Ricardo Nunes, do MDB. Ocorre que, pelos números das primeiras pesquisas para o segundo turno, a parada é duríssima.

Para além das generalizações que encaixam tudo certinho em cada lado ideológico, a verdade é que houve de tudo. A turma de Bolsonaro viu o “mito” sair massacrado de eleições nas quais se engajou até o pescoço, como Recife e Rio de Janeiro. Em outras grandes cidades, como Contagem (MG), o golpista também viu seus parceiros de extrema direita fracassarem diante de candidatos da esquerda.

Não resta dúvida, no entanto, de que o bolsonarismo e demais faixas da ala reacionária saíram em vantagem. O desempenho de PP, União Brasil, PL e Republicanos confirma a força do atraso. Esse balaio, entupido de extremistas que defenderam as ações arbitrárias e golpistas de Bolsonaro, promete um estrago nas eleições para o Legislativo daqui a dois anos. É bagaceira: o parlamento será ainda mais medíocre.

Em Maceió, o bolsonarista João Henrique Caldas engrossa essa turma do retrocesso. Reeleito com alta votação, o prefeito de Maceió está livre para negociar seu futuro. Já garantiu dois anos de mandato de senadora para sua mãe, Eudócia Caldas. É o resultado do acordão fechado com o irrelevante senador Rodrigo Cunha.

Esse arranjo municipal, que ainda contou com as jogadas de Arthur Lira, está cheio de arestas, armadilhas e incertezas. Nada garante que o complô traga os resultados que a patota espera. JHC sonha com o governo estadual, mas talvez tenha de se contentar mesmo com um mandato de deputado federal. 2026 está só começando.