No dia de ontem, os maceioenses elegeram a nova Câmara Municipal de Maceió. Com 27 vereadores – dois a mais que na atual composição – dificilmente haverá uma mudança significativa em relação aos espectros políticos – sejam ideológicos ou fisiológicos – que se apresentam no “parlamento-mirim”.
Agora, há pontos que merecem uma análise mais aprofundada, diante de algumas votações expressivas e derrotas inesperadas.
Primeiro ponto: as pesquisas de consumo interno (que não poderiam ser publicadas, pois não estavam registradas) apontavam para os possíveis campeões de voto: Luciano Marinho (PL), Galba Netto (PL) e Zé Márcio (MDB). Marinho ter se destacado – portanto – não foi uma surpresa. Grande parte desta votação é oriunda do meio evangélico, onde o edil atua com emendas e diálogo constante.
A maior surpresa foi a eleição de um vereador que parte para o seu primeiro mandato: Thales Diniz (PSB). O partido que, extraoficialmente, pertence ao governador Paulo Dantas (MDB) trabalhava com a possibilidade de eleição de Milton Ronalsa, Marcelo Maia e Gustavo Pessoa, este último tendo o apoio tanto de Dantas quanto da secretária da Fazenda, Renata Santos.
Milton Ronalsa se elegeu, confirmando a força da família Ronalsa, que sempre teve uma cadeira na Casa, que já foi do patriarca Carlos Ronalsa, depois do atual deputado Dudu Ronalsa e que, na atual legislatura, pertence a Gaby Ronalsa. Milton confirmou o prognóstico de ser o mais votado do PSB. Porém, a legenda assistiu a derrota de Marcelo Maia, que tinha como principal apoiador o irmão e ex-deputado estadual Davi Maia (União Brasil); e de Pessoa. Diniz chega à Câmara de Maceió como um fator inesperado.
Há quem tenha se surpreendido com a eleição de Davi Empregos (União Brasil). Todavia, o partido do deputado federal Alfredo Gaspar (União Brasil) demonstrava crescimento na reta final e a possibilidade de conquistar uma cadeira era grande, sobretudo diante da queda do Republicanos, que perde o espaço que é atualmente do Pastor Oliveira, que não conseguiu a reeleição. A batalha no União Brasil era entre Davi Empregos e Júlia Nunes, o primeiro levou a melhor e a segunda ficou com a primeira suplência.
O Republicanos cometeu o erro, em Maceió, de não preparar bem um “rabo de chapa” e – com isso – não alcançou o cociente eleitoral. Dentro do partido, a aposta entre nomes que buscavam fisgar uma parcela do eleitorado de direita – como Kayo Fragoso e Josan Leite – resultaram frustradas. A direita mais ideológica se dividiu entre Leonardo Dias (PL) e Caio Bebeto (PL), tendo Dias levado a melhor e ultrapassado muitas expectativas.
O PL do prefeito reeleito João Henrique Caldas, o JHC (PL), confirmou o prognóstico de eleger 11 edis, inclusive o primeiro colocado Luciano Marinho. Na sequência veio Galba Netto, Marcelo Palmeira, Leonardo Dias, Chico Filho, Brivaldo Marques, Cal Moreira, Siderlane Mendonça, Eduardo Canuto, Jeannyne Beltrão e Jonatas Omena.
Direita
O fato de PL ter eleito a maior bancada não significa, necessariamente, um crescimento “assombroso” da direita na Casa de Mário Guimarães, mesmo se tratando da legenda do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O único eleito – neste grupo – que é ligado a Bolsonaro é o vereador Leonardo Dias, que teve uma votação impressionante, ultrapassando a casa dos 10 mil votos. Ele se consolida como a voz da direita na capital alagoana, que foi o seu slogan de campanha.
Há outros edis mais alinhados à direita na legenda, como Eduardo Canuto. Mas, em regra, a busca pelo PL teve mais a ver com a questão da matemática eleitoral, de ser a legenda de JHC, dentre outros fatores que fazem de qualquer agremiação um cartório na busca pela eleição.
O fato é que – não só por conta do PL, mas por conta de quase todas as legendas que comporão a próxima legislatura – o que vai imperar mais uma vez é o modelo tradicional de política fisiológica na Casa de Mário Guimarães, com exceções, seja a de Dias à direita e nos trabalhos de fiscalização constante, a de Prado nas pautas de Segurança ou a de Nelma na defesa do progressismo.
Esquerda
Se na ala mais conservadora, haverá o nome de Leonardo Dias e há uma expectativa de que o Delegado Thiago Prado (Progressistas) – eleito para o primeiro mandato – tenha posturas semelhantes a Dias em muitas pautas, sobretudo na questão da Segurança Pública; na ala mais progressistas se mantém os nomes de Teca Nelma (PT) e de Olívia Tenório (Progressistas), ambas reeleitas.
Nelma e Tenório são duas vereadoras que dialogam com pautas identitárias e de esquerda. Em que pese Sílvio Camelo Filho (PV) chegar ao primeiro mandato tendo sido eleito pela Federação, não esperem do filho do deputado estadual Sílvio Camelo posturas de esquerda. Quem o conhece pessoalmente sabe que ele professa uma visão de mundo mais conservadora, inclusive sendo um católico mais tradicional. Como ele se comportará na Câmara, se mais alinhado ao pai, à Federação ou aos valores que o conduzem, eis uma incógnita…
Por falar em eleição em que pai apoia filho, o deputado estadual Cabo Bebeto (PL) – que foi muito bem votado em Maceió, nas eleições estaduais passadas – não conseguiu eleger o filho Caio Bebeto, que ficou na primeira suplência após uma disputa com Jonatas Omena pela última vaga do PL.
Demais vereadores
Aldo Loureiro (PDT) conseguiu sair vitorioso, assim como Samyr Malta (Podemos) e Silvânia Barbosa (Solidariedade) que adotaram a estratégia de montar partidos que o colocassem na cabeça da chapa, atingindo assim o cociente eleitoral e fazendo apenas um eleito. A estratégia que o Pastor Oliveira também tentou, mas não conseguiu.
O MDB elegeu Zé Márcio Filho, Kelmann Vieira, Fátima Santiago e Allan Pierre. Os dois primeiros renovam o mandato. Fátima Santiago retorna à Câmara de Maceió após ter perdido a eleição em 2020 e Allan Pierre surge como uma surpresa, pois as apostas maiores se davam em relação aos nomes dos vereadores Fernando Hollanda e Joãozinho, que perderam.
No Progressistas, a surpresa foi a derrota de João Catunda (Progressistas). O partido elegeu o já citado Delegado Thiago Prado, Davi Davino e Olívia Tenório. De qualquer forma, pela maneira como foi montada a legenda e diante da capilaridade eleitoral de Prado, as pesquisas apontavam a eleição de Davi Davino e uma briga intensa entre Catunda, Prado e Tenório por duas vagas, o que se confirmou nas urnas.
Por fim, o ex-prefeito de Maceió, Rui Palmeira (PSD) volta à Câmara de Maceió em sua trajetória de recomeço após a estratégia também de montar uma chapinha que lhe garantisse ser o primeiro colocado da legenda.
No final das contas, em que pese ter nove vereadores de “primeira viagem” na composição para 2025, muito pouco mudará na Casa de Mário Guimarães…