As campanhas eleitorais chegaram ao fim e há um dia das eleições municipais, que ocorrem neste domingo (6),  Alagoas viu o cenário político de certezas em alguns municípios e dúvidas em outros. Há cidades em que é possível apontar os eleitos, mesmo antes do resultado das urnas.

Apesar de registros de compra de votos e outros crimes eleitorais, as eleições de 2024 em Alagoas não possuem, até o momento, registros de crimes mais acintosos, embora as discussões, acusações e até algumas baixarias tenham ocorrido em vários dos 102 municípios.

Para o CadaMinuto, o cientista político Ranulfo Paranhos avaliou as campanhas eleitorais em alguns municípios alagoanos, apontou a situação dos candidatos nas duas principais cidades do estado e falou sobre as circunstâncias atípicas do pleito.

Paranhos também avaliou a disputa entre o grupos do Calheiros e o grupo de Lira, sobre o sonho do MDB em conquistar a Prefeitura de Maceió e sobre os efeitos das ausências de Lula e Bolsonaro na campanha de seus respectivos candidatos em Alagoas.

Confira as avaliações do cientista político:

Eleições mais tranquilas

De acordo com Ranulfo Paranhos, uma característica das eleições de 2024 em Alagoas, e talvez no Brasil como um todo, é a baixa ocorrência de crimes mais acintosos.

“Tem candidatos aqui e ali que cometem pequenos crimes eleitorais, mas que não entram em guerra. Estou falando daquele tipo de crime que fere não a Constituição, mas a democracia. A Capital e a segunda maior cidade do estado, Arapiraca, têm dois candidatos à reeleição que caminham para se reeleger de forma muito fácil, folgada”, frisou.

Maceió

Maceió tem possibilidade de segundo turno em função do colégio eleitoral, mas como JHC tem mais de 50% das intenções de voto é provável que agora neste domingo (6), ele seja reeleito, sem grandes dificuldades.

Uma parte disso se dá pelo reconhecimento, pela forma como ele fez ser reconhecido o seu trabalho e aí um trabalho de tornar a Capital um cartão postal turístico, isso faz diferença. Aqui e ali você tem obras, enfim, isso levou a gestão dele a uma avaliação positiva, ou seja, ele é avaliado, tem uma avaliação acima dos 50 pontos percentuais pela população maceioense e isso está  se convertendo em votos. Então, vai ser uma eleição sem percalços, ou seja, sem debate mais acirrado, sem rixas, necessariamente sem baixarias e tudo mais. Acho que Maceió está neste cenário.

Arapiraca

O atual prefeito Luciano Barbosa também se reelege com uma dada facilidade, ou seja, não tem outro grupo de elite organizado ou  forte o suficiente capaz de combatê-lo, ou capaz de fazer oposição para lançar uma candidatura competitiva.

Delmiro Gouveia

Lá tem os Cabeleiras. Ziane Costa ganha, porque de novo a oposição não conseguiu lançar um candidato. Padre Eraldo está sub judice, Cazuza desistiu da campanha, então aqui e ali você percebe, principalmente, a ausência de grupos se organizando.

Rio Largo

Talvez Rio Largo, cidade que tem uma disputa mais acirrada. Prefeito indo para a reeleição, ex-prefeitos concorrendo também à eleição e isso torna o debate mais acalorado, uma campanha mais acalorada. Toninho Lins dizendo que vai para a rua de peito aberto, que vai para a guerra, que para ele isso é uma guerra.

Campanhas eleitorais não são guerra. São espaços e mecanismos para você apresentar proposta e, com essas propostas, convencer eleitores e vence aquele que vende melhor seu produto, consequentemente, tem outras coisas que fazem diferença: imagem, tradição, grupo político, partido político, histórico do candidato. Tem uma série de elementos , mas eu acho que talvez só em Rio Largo a temperatura também esteja mais alta.

O cientista político Ranulfo Paranhos / Foto: Arquivo Pessoal

 

Junqueiro / Campo Alegre

Os Pereira. Falo de Joãozinho Pereira, Fernando Pereira, Peu Pereira, Jó Pereira, Pauline Pereira, primos do Arthur Lira e sobrinhos do Benedito de Lira, que dominam a região ali, de ainda Zona da Mata, perto de Junqueiro, Teotônio Vilela e Campo Alegre.

Eu acho que em Campo Alegre e Teotônio Vilela eles conseguem manter. Junqueiro eu não sei, porque Joãozinho Pereira, ex-deputado estadual, ex-superintendente da Codevasf , passou todo o período de campanha ausente, internado em São Paulo. Ou seja, é um candidato que não aparece, nem sequer gravou vídeos para a campanha.

Candidaturas únicas

Nós temos quatro prefeituras, Branquinha, Jaramataia, Cacimbinhas e Mar Vermelho com candidaturas únicas, ou seja, com um só candidato. Isso não é bom para o processo eleitoral porque você não tem oposição.

A oposição tem um papel fundamental que é fiscalizar, apresentar propostas alternativas. E aí se você abandona o princípio da fiscalização, é possível que não seja bem fiscalizada, é possível que os dois grupos, ou três grupos, que poderiam disputar o pleito somaram-se, se juntaram em um só grupo e essa junção que maximiza os ganhos para todos, ou seja, não tem controle dos gastos e todo mundo ganha se a gente fizer um grupo só.

Do ponto de vista da democracia, do ponto de vista do processo democrático, você perde o princípio da fiscalização, princípio da oposição, apresentação de divergência, das ideias divergentes.

Tropas federais

No geral, o estado de Alagoas não apresentou campanhas cuja necessidade tenha se dado para tropas. É preciso tropas do Exército para acompanhar o pleito? Vez ou outra isso acontece no Brasil, mas eu acho que em Alagoas, as tropas vêm para atuar em uma atividade muito mais prática e menos por acirramento de ânimos.

Eu diria que o processo eleitoral de 2024 é talvez mais calmo, talvez mais brando quando a gente fala de disputas municipais.

O sonho do MDB

Possivelmente, o Governo do Estado não consiga fazer um candidato, consequentemente os Calheiros, apesar de ter um número de candidatos a prefeitos pelo MDB, partido deles, e muitas alianças, mas eles não conseguem a Capital. E isso, para o MDB, para os Calheiros é um sonho que eles já têm, pelo menos é um projeto que eles já tinham há muito tempo e essa é, pelo menos a terceira vez consecutiva que eles não conseguem conquistar a Prefeitura da Capital.

Desde a época do Rui Palmeira, que se elege e reelege, depois o Cícero Almeida é candidato, depois o JHC se elege, sempre o MDB tenta emplacar um candidato, mas o candidato não consegue sagrar-se vitorioso.

Grupo dos Calheiros x Grupo de Lira e JHC

O que vai deixar mais claro, é que de um lado a gente tem um grupo consolidado, bem estabelecido e forte, quando a gente pensa em interiores, que o grupo dos Calheiros, o grupo do MDB.

Por outro lado, na Capital será JHC e aliados do Arthur Lira. Essa aliança a gente não sabe se ela dura até 2026. Fizeram uma aliança neste momento para conquistar Maceió e tentar puxar aí o que sobra, o que não é do MDB, uns 30 municípios, vão integram esse arco de aliança do Arthur Lira, na perspectiva de disputar o Governo do Estado em 2026. Aí tem vaga no Senado, tem vaga de governo e tudo isso está em jogo.

O fato é que as eleições municipais são uma jogada prévia para a campanha de governo. Prévia, que eu digo, porque Paulo Dantas não pode ser candidato à reeleição, então os Calheiros têm que lançar um nome, ninguém sabe se o próprio Renan Filho, mas em essência, de novo, a gente tem ao final desse pleito dois grupos: o grupo político dos Calheiros e o grupo político do Arthur Lira, JHC, mais o senador Rodrigo Cunha, que deixa o cargo de senador para passar à cadeira de vice-prefeito da Capital

Ausência dos protagonistas da polarização

Estamos em fase de polarização do espectro político e nem Lula, nem Bolsonaro apareceram em Alagoas para fazerem campanha para os seus respectivos candidatos.

De um lado, o candidato de Lula seria o Rafael Brito, mas ele não conseguiu avançar nas pesquisas. Isso impediu com que ele conseguisse barganhar a presença de um cabo eleitoral forte.

Do outro lado, o JHC está muito na frente nas pesquisas. Se as eleições fossem hoje ele ganharia no 1º turno, o que dispensou a presença do Bolsonaro, de alguém ligado ao Bolsonaro, como os filhos do Bolsonaro, por exemplo. Essa dispensa para o JHC é positiva, ou seja, ele ganha sozinho sem precisar da presença do Bolsonaro. No entanto, a presença do Bolsonaro poderia, para um candidato que tem 70% das intenções de voto, tirar votos do JHC.

Já no caso do Rafael Brito, a presença do Lula aumentaria a quantidade de votos. Há uma probabilidade de que ele funcionasse como um cabo eleitoral para aumentar a quantidade de votos. Só que o Rafael ficou ali, na última pesquisa se não me engano, na casa dos 11%, ele não chegou a 20%. E o JHC também não desceu, está em 73%.

Então isso dispensa a presença dessas figuras da polarização. Agora dispensa, porque a gente está falando de um colégio eleitoral muito pequeno, que tem 600 mil eleitores. Se fosse em São Paulo, Rio, Belo Horizonte e capitais maiores, haveria sim a necessidade do Lula ou do Bolsonaro aparecer para seus respectivos candidatos. Mas Alagoas, por si só, representa 2.3% do eleitorado nacional. É muito pouco para muito esforço, para um cacique político como Lula vir até aqui.

Enfim, para o Lula seria muito esforço, muito custo, para pouco retorno. Para o JHC seria um custo arriscado trazer o Bolsonaro, ele poderia perder votos.