No dia 6 de outubro, milhões de alagoanos irão às urnas para as eleições municipais de 2024 em todo o estado e com a proximidade da data do pleito é muito importante, para os eleitores, entenderem como está o cenário político atual. Novas alianças e candidatos trocando de partido podem confundir o eleitor que não acompanha o cenário de perto.

Apesar de algumas candidaturas favoritas na eleição, a conjuntura política no estado possuí outras disputas intensas nas eleições deste ano, diferente de anos anteriores.

O CadaMinuto entrevistou cientistas políticos, Luciana Santana e o Ranulfo Paranhos, para falar sobre como se apresenta o cenário político atualmente no estado e entender a conjuntura política nessas eleições em Alagoas.

Nas últimas eleições, em 2022, o estado de Alagoas, assim como o Brasil, viveu um cenário de polarização política, que influenciou em todo o processo eleitoral, inclusive nos votos para deputados estaduais e governadores.

O duelo político entre o atual presidente Lula (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PT), ditou o tom do pleito anterior, mas segundo a cientista política Luciana Santana, não é o que se apresenta atualmente em Alagoas para estas eleições.

“Não acho que a gente tenha qualquer tipo de polarização política, como aconteceu nas eleições nacionais. Não estamos vendo isso. Acho que Lula e Bolsonaro, inclusive, não estão na campanha em si, mesmo sabendo dos alinhamentos partidários”, disse Luciana.

A cientista destaca que a dinâmica das eleições municipais difere das eleições nacionalmente, os temas passam a ser mais próximos dos eleitores, fazendo com que a escolha seja apenas pela continuidade ou não do que está sendo feito.

“Não acho que a polarização que aconteceu nas eleições de 2018 e 2022 esteja ditando as eleições municipais. A dinâmica local tem vida própria — tem um conservadorismo no voto, na percepção do eleitor, a questão de se quer continuidade do que está sendo feito agora ou não, ponto. Então se discute um tema específico”, destaca.

Sobre as eleições no interior de Alagoas, Luciana destaca que nos municípios menores, a proximidade dos eleitores com os candidatos fazem com que a pressão na campanha seja maior. Pelo fato de que, a atuação do candidato no dia a dia é acompanhada mais de perto nessas cidades.

“Diferentemente da capital, nos municípios menores, os competidores, as pessoas que estão se apresentando, elas são muito mais pressionadas, a população tem mais chance de cobrar, de estar ali, acompanhar, se vê se efetivamente aquela pessoa teria mais ou menos condições de atender ali aos interesses dessa população, desse município", ressalta a especialista.

Para ela, o corpo a corpo conta muito, "as relações, a cobrança em relação ao papel que ou já desenvolveu, ou que está envolvendo em algum espaço de atuação, isso tudo conta para o eleitor. No caso do interior, isso é mais intenso e muito mais visível”, destaca Luciana.

Na competição para o executivo da capital, Maceió, Luciana diz haver uma inclinação para a chapa do atual prefeito, JHC (PL), segundo a cientista, a disputa para a vaga de prefeito na capital está amena, devido ao favoritismo do atual prefeito.

“Você tem uma competição, eu diria, mais amena, muito mais inclinada ali a uma chapa. Não há nomes competitivos que possam colocar disputa no nível de possibilidade de ir ao segundo turno”, destaca.

Segundo ela, a oposição não foi capaz de escolher um nome para a disputa que conseguisse levar a eleição para o segundo turno e tirar o atual prefeito da zona de conforto que se encontra.

“Acredito que a oposição ao prefeito não foi hábil o suficiente de apostar num nome mais competitivo, que levasse essa eleição para o segundo turno, que tirasse o atual prefeito do lugar mais confortável. E é de onde ele estava e onde ele está e onde ele continua”, completa Luciana.

Sobre Maceió, a cientista ainda ressalta pontos fundamentais para o favoritismo do atual prefeito em Maceió, segundo ela, a aliança com o deputado Alfredo Gaspar (União Brasil), fortalece a campanha de JHC.

“Novas alianças foram feitas, então se antes o Alfredo Gaspar, que foi o principal opositor na disputa política, hoje ele está apoiando o prefeito, esse é um exemplo. Com certeza, isso fortalece o favoritismo do prefeito nessa disputa”, disse.

Grupos políticos

O cientista político Ranulfo Paranhos ressalta que a capital possui alguns personagens de destaque no pleito, como o grupo dos Calheiros, que continua a ter uma forte presença. Apesar das várias tentativas de candidatura à prefeitura, o grupo não tem conseguido conquistar o cargo, sempre enfrentando uma oposição ativa e vitoriosa.

“Do outro lado tem sempre uma força contra majoritária, uma força que é contrária ao grupo do governo. Essa força que é contrária ao grupo do governo tem sempre ganhado as eleições. É bom lembrar que, do ponto de vista de grupos, nós sempre temos um grupo capitaneado e muito bem definido, que é o MDB dos Calheiros, e um outro grupo que tem feito oposição”, disse.

 

Redes sociais e eleições

Ranulfo pontua que Alagoas segue o padrão dos demais estados brasileiros, por isso, as redes sociais têm sido fundamentais na propagação das pautas relacionadas à política e às eleições. Porém, ressalta que os temas são formados onde o guia eleitoral obrigatório é veiculado, ou seja, na televisão e na rádio.

“As redes sociais reverberam, multiplicam, discutem ou pautam aquilo que acontece na televisão e rádio, que é onde o guia eleitoral obrigatório acontece. É ele que vai pautar, que vai dizer quais temas serão discutidos”, comentou.

Ele exemplifica usando o caso do debate dos candidatos à prefeitura de São Paulo, onde o candidato Datena atingiu Pablo Marçal com uma cadeirada: “Aquilo acontece na televisão. Depois da televisão, migra para o Instagram, o WhatsApp, vai virar meme e tudo mais. Mas veja, está acontecendo na televisão”.

 

Colégios eleitorais diferentes

O especialista explica que, a depender da população, as estratégias de campanha mudam: quanto menor o colégio eleitoral, mais próximo do eleitor se encontra o candidato. 

“O candidato a prefeito tem uma cidade pequena como Craíbas, Minador do Negrão, Cacimbinhas, por exemplo, tem um contato muito próximo. O colégio eleitoral é muito pequeno, portanto, um voto tem um peso muito maior. Relativamente falando, o voto vale muito mais. Já em cidades maiores, a comunicação se dá de forma mais indireta, via guia eleitoral”, frisou.

Em outras cidades “meio termo”, como São Miguel dos Campos, Arapiraca, Palmeira dos Índios, Penedo e Rio Largo, a comunicação acontece por meio de debate. 

“O eleitor é o mesmo, só que ele tem valor do voto diferente, peso relativo diferente. Em um colégio eleitoral muito pequeno, um voto só pode definir se um prefeito ganha ou não a eleição, se o vereador vira suplente ou não. Mas num colégio eleitoral muito grande, a comunicação tem que ser feita para a massa”, pontuou.

 

Tropas federais

Sobre as tropas federais, solicitadas, até o momento, por 11 municípios alagoanos, Ranulfo explica: “É mais comum em eleições municipais, e não em eleições gerais, porque nas eleições municipais você pode ter campanhas eleitorais em determinados municípios mais acirradas, com os ânimos mais exaltados. Daí a necessidade de recorrer a um mecanismo como solicitar tropas federais para acompanhar o processo. Mas, de maneira geral, não há impacto, o próprio exército se presta a esse papel, faz acompanhamento, já fez acompanhamento e distribuição de urnas”.

 

Modo de agir dos eleitores

Na análise do comportamento do eleitor, Ranulfo destaca a relevância da teoria do voto econômico, que sugere que as decisões dos eleitores são fortemente influenciadas por fatores econômicos. A teoria indica que os eleitores tendem a avaliar suas opções com base em como as condições econômicas podem impactar suas vidas e a de suas comunidades.

Ele argumenta que, em estados como Alagoas, onde os indicadores sociais, como desemprego, segurança pública e alfabetização, permanecem preocupantes, o voto está intimamente ligado a essas variáveis. "Quando o eleitor enfrenta problemas de segurança, isso está frequentemente atrelado a uma alta taxa de desemprego e a outros indicadores negativos", afirma. 

Para ele, a lógica mostra que, mesmo que o voto seja racionalizado de diferentes maneiras, a preocupação com a melhoria da vida pessoal e coletiva é uma constante.

 

Polarização

O cientista político aponta que o cenário atual apresenta dois polos distintos no eleitorado. Segundo ele, a mais recente pesquisa indica que JHC lidera com 74% das intenções de voto, enquanto Rafael Brito, candidato apoiado pelo governo, conta com apenas 4%, empatado com Lobão. “Nesse momento, não há polarização significativa”, observa.

Para que a polarização se estabeleça, é necessário existir uma real possibilidade de segundo turno, onde os candidatos dividam o eleitorado de maneira mais equilibrada. 

Ranulfo destaca que, à medida que a campanha avança, se Rafael Brito conseguir aumentar suas intenções de voto enquanto JHC cair, a polarização poderá surgir, mas ainda assim em termos de opções eleitorais, não necessariamente em uma dimensão ideológica.

Ele também argumenta que, nas eleições municipais, a polarização ideológica tende a ter um impacto menor. “A gestão pública municipal é mais afetada por questões práticas do que por posicionamentos ideológicos definidos”, afirma. E ainda compara a dinâmica com eleições em esferas maiores, como as de deputado federal e presidente, onde a ideologia tem um papel mais significativo.

*Estagiário sob supervisão da editoria