Se Seo Antônio, meu pai fosse vivo estaria completando anos e fico pensando em meu pai velhinho. Se já era chato aos 70 imagina com 90 anos.
Imagina de quem herdei a chatice?!
Era uma cabra muito determinado, o mestre serralheiro e nutria uma devoção pelo trabalho.
Quero morrer trabalhando- dizia, e assim o foi. Trabalhou muito, até bem pertinho de desencarnar. Não chorei no enterro do meu pai. Não sou mulher de muitos choros e nem me debulho em falar em saudades eternas. Tenho de meu pai, uma presença tão presente na alma que me esquivo das palavras vãs.
Se o cabra de valor, Antonio Pedro dos Santos Filho estivesse, ainda, entre nós teria completando 95 anos terrenos, no 20 de setembro.
Ele nasceu no mês de setembro, quando despontam as flores, mas, estava mais para espinhos do que mesmo flores. Era um homem rústico, mas tinha o coração do tamanho do mundo.
A honestidade era como se fosse uma extensão física de seus princípios. Meu pai era um homem de princípios, valores adquiridos ao longo da vida.
Saiu cedo de casa, porque como era muito ousado, queria se construir além dos dogmas que norteava a vida de um menino preto, interiorano.
Natural de Matriz de Camaragibe, interior das Alagoas, meu pai, teve uma mãe severa que o batia com cipó. Um dia cansado de apanhar, o menino tomou os caminhos do mundo e veio para Maceió.
Em Maceió descobriu a serralharia, a funilaria e se fez mestre, o mestre Antônio Pedro.
Em Maceió, meu pai encontrou minha mãe, e é por isso que estou aqui contando essa história.
No 20 de setembro, quando a primavera escancara as portas para entrada das flores, meu pai faria quase 95 anos, e esse texto é só pra dizer a ele que continuamos na luta. Tentando seguir os princípios ensinados.
Parabéns, papai.
Eu o amo!