Cana, pinga ou água que passarinho não bebe, não importa o apelido: a cachaça representa o Brasil tanto quanto o futebol e o samba. Portanto, o resultado da primeira edição do Festival da Cachaça, Cultura e Sabores de Arapiraca, realizado no último final de semana, não poderia ser diferente: sucesso tanto de público quanto de vendas e, claro, de negócios.

O Sebrae, grande parceiro no aprimoramento do setor, foi responsável pela organização do festival em parceria com a prefeitura de Arapiraca e desempenha também um papel importante no desenvolvimento das empresas que integram o roteiro turístico da cachaça e, por consequência, no progresso regional, como explica a gerente-adjunta do Sebrae Alagoas, Adrianne Albuquerque.

“O Festival da Cachaça é importante para conectar segmentos, a indústria da cachaça e as pessoas, fomentando as micro e pequenas empresas do agreste alagoano e também conectando os municípios conforme sua vocação territorial. O Sebrae promove eventos como esse porque traz muitos benefícios para cadeia produtiva. Além das cachaçarias, também estiveram presentes empresas do setor gastronômico e de artesanato. Isso gera uma amplitude de resultados muito maior para o sucesso do evento, como o fortalecimento da rota turística da cachaça, o networking entre as empresas e entre os municípios, e ainda o incentivo à economia criativa, tudo o que ajuda a ampliar o PIB da região. O festival é da cachaça, mas todos saíram ganhando”, explicou.

O evento foi o sexto festival gastronômico promovido em Arapiraca com a parceria do Sebrae e, mais do que promover a valorização dos pequenos negócios e a apresentação da Rota da Cachaça, ainda pouco conhecida pelas comunidades locais, também consolida o potencial do município no turismo de negócios, comércio e eventos. “Os festivais têm sido um sucesso porque traz preço popular e música para atrair o público e movimentar a economia local. Como Arapiraca não tem tantos atrativos turísticos naturais, eventos como esse servem para captar turistas e também para mostrar para a própria comunidade os atrativos que o Agreste tem. A Rota da Cachaça, que completou um ano no último dia 13, já é um sucesso, mas ainda é pouco conhecida na região, assim como poucas pessoas daqui conhecem o potencial das cachaças alagoanas, que são premiadas e são referências em outros estados. Desse modo, o Festival da Cachaça une o turismo com a promoção do desenvolvimento dos pequenos negócios da gastronomia”, ressaltou a analista do Sebrae, Susylane Ferreira.

Desenvolvimento e qualidade

O festival, que aconteceu no estacionamento do Supermercado São Luiz, reuniu engenhos do interior alagoano que fazem parte da Rota da Cachaça: Caraçuípe, Gogó da Ema e Brejo dos Bois, além de outras empresas do segmento de bebidas, como a Taverna Beer, uma cervejaria artesanal que também está começando a investir em cachaça, e a Sabores do Agreste, que produz licores e bebidas saborizadas a partir da cachaça e do vinho.

Essas empresas têm em comum uma trajetória percorrida junto ao Sebrae, algumas com mais de uma década, recebendo consultorias, orientações técnicas e participações em cursos, trabalhando para melhorar a qualidade do produto e a competitividade das marcas. A analista da Unidade de Desenvolvimento e Competitividade Setorial do Sebrae, Agda França, explica que a partir da participação delas em programas como o Cinco S, de formação de lideranças, mapeamento de processos e competitividade na indústria, elas têm conquistado prêmios e reconhecimento fora de Alagoas.

“Todos esses empresários estão de parabéns porque estão alcançando diversos mercados. Estamos nas distribuidoras, supermercados, conveniências e também em eventos, como o Festival da Cachaça, que é aberto ao público para mostrar suas marcas e seus produtos. O Sebrae tem um papel fundamental em evidenciar essas marcas, que precisam ser mais conhecidas no Agreste. Algumas pessoas, quando vão ao supermercado, escolhem uma cachaça de Minas ou da Paraíba, mas não sabem que aqui no Agreste alagoano temos cachaças premiadas que se destacam em qualquer lugar do país. Vale a pena conferir e consumir, de forma moderada, as nossas cachaças e apoiar o empreendedorismo local”, declarou.

O engenho Gogó da Ema possui nada menos que 39 prêmios, alguns deles internacionais, e o alambique, localizado no município de São Sebastião, é integrante da Rota da Cachaça e há um ano passou a receber grupos de turistas interessados em conhecer o processo de produção das bebidas premiadas. “Essas visitas são uma forma de mostrar como a nossa produção se preocupa com a higiene e a qualidade em cada etapa do processo para que o produto chegue da melhor maneira ao consumidor final. Foi com o apoio do Sebrae, as consultorias e os cursos que fizemos que chegamos a este ponto, decolando na Rota da Cachaça”, explica Henrique Tenório, administrador da empresa.

Com dois selos de cachaça e também mel de engenho e gin, o engenho Caraçuípe é também premiado internacionalmente. Com 91 anos de história e um centro de visitação no distrito de Luziápolis, município de Campo Alegre, investe na produção própria de cana e em consultorias e capacitações. “O Sebrae ajuda muito tanto no fomento de eventos como o Festival da Cachaça, quanto em consultorias para melhorar o atendimento. Antes da Rota da Cachaça, nós já recebíamos visitas pontuais de caráter mais técnico, promovidas por cursos de agronomia, administração e gastronomia. Agora recebemos turistas interessados em conhecer o processo e a experiência do produto”, explicou Antônio Coutinho, que integra o time da indústria.

A Taverna Beer, empresa que produz cervejas artesanais e também trabalha com cachaças, integra a rota turística com a fábrica em Arapiraca e está presente em todos os festivais gastronômicos promovidos pelo município. Para a empresária Zilma Galdino dos Santos, o Sebrae é um divisor de águas no desenvolvimento da empresa. “O Sebrae faz parte da minha vida. Além de ajudar com capacitações, considero-o um dos nossos maiores incentivadores. Às vezes a gente fica meio caidinho, mas o Sebrae vem e dá uma injeção de ânimo, trazendo soluções para nossas dificuldades, e a Rota da Cachaça é uma alegria para a gente. Já recebemos vários grupos desde fevereiro e temos outros agendados até novembro. É uma satisfação mostrar para o público que temos uma cervejaria genuinamente arapiraquense”, afirmou.

Rota turística

O roteiro turístico pelos engenhos de cachaça no interior de Alagoas foi criado oficialmente no dia 13 de setembro de 2023, Dia Nacional da Cachaça, com um fan tour passando pelos municípios de Campo Alegre, Teotonio Vilela, Junqueiro, São Sebastião e Arapiraca, apresentando a rota turística dos alambiques e indústrias da bebida alcoólica para representantes de agências de viagens alagoanas e de outros estados.

O projeto, no entanto, teve início dois anos antes, quando o Sebrae e a Instância de Governança do Agreste identificaram o potencial dos engenhos do Agreste alagoano como rota turística e gastronômica. “Quando identificamos essa potencialidade em comum, o Sebrae começou a visitar esses engenhos e orientar como eles poderiam ganhar dinheiro não só com a venda dos produtos, mas também recebendo turistas. Essas empresas já vinham de um histórico conosco, e então passamos a trabalhar o turismo, como a receptividade dos visitantes, a apresentação do produto, a definição de um roteiro, com precificação e definição do que está incluído no passeio. Após o fan tour, as agências começaram a vender e os engenhos já sentem a diferença. Participando da Instância, a visibilidade deles aumenta ainda mais, não só em termos de venda do produto, como em visitas turísticas”, explica Susylane Ferreira.

A presidente da Instância do Agreste, Evânia Albuquerque, afirma que a Rota da Cachaça já está consolidada como roteiro turístico nacional. “Temos muito orgulho em dizer que a cachaça produzida aqui não perde para a de Minas, Paraíba ou qualquer outro lugar. A Gogó da Ema é a cachaça mais premiada do Nordeste e a terceira melhor do Brasil. Mostrar essa e outras cachaças produzidas aqui, seja para turistas, para os próprios alagoanos ou até mesmo para os munícipes, é tornar Alagoas mais conhecida em seus sabores, cultura e tradição. A rota vem sendo fomentada pelo governo do Estado, através da Instância, apoiada pelo Sebrae e pelo setor privado, com protagonismo dos cachaceiros, que são os produtores de cachaça. A Instância busca formatar formas de projetar ainda mais esse roteiro, levando-o para feiras nacionais e internacionais”, destacou.