O Brasil sempre foi popularmente conhecido como o “país do futebol”. A grande paixão por esse esporte é muito exibida no dia a dia do brasileiro.  Entretanto, cada vez mais, outros esportes vêm ganhando espaço e visibilidade no Brasil, recebendo maiores investimentos e oportunidades. 

Nas Olimpíadas de Paris 2024, vários esportes ganharam um maior destaque em detrimento das Olimpíadas de anos anteriores. Neste ano, tivemos transmissão ao vivo e com imagens no YouTube, no canal da Cazé TV, de vários esportes em que os atletas brasileiros estiveram disputando. Além disso, a ausência da seleção brasileira de futebol masculino, que não se classificou, acabou abrindo espaço para outras modalidades. 

Com tal destaque, atletas brasileiros de outras modalidades ganharam bastante visibilidade, trazendo mais olhares, seguidores, patrocinadores e atenção às suas modalidades, como a ginástica rítmica e a artística, por exemplo. Mas, a realidade de vários atletas continua muito longe do investimento necessário para que se chegue no mais alto nível.

 

A pressão e a alta cobrança por êxito no Brasil

A vida do atleta, de maneira geral, é cheia de desafios e barreiras que não são vistas ou, por vezes, ignoradas por boa parte dos expectadores e amantes do esporte. Tal falta de conhecimento sobre as renúncias, alta carga de treinos e a distância da família provoca críticas, expectativas exageradas e uma pressão exacerbada pelo êxito, tornando o ambiente do atleta conturbado.

Muitas vezes, essas críticas acabam vindo nos momentos de derrota ou de mau desempenho, por pessoas que não possuem um entendimento apurado de tal modalidade. Geralmente chegam de forma desmedida, descartando o empenho e a dedicação do atleta, gerando um prejuízo emocional, que dificulta ainda mais o exercício daquela modalidade.

Diante da temática abordada, o CadaMinuto entrevistou a atleta alagoana de ginástica rítmica, capitã da seleção de conjunto, Eduarda “Duda” Arakaki, de 21 anos, que neste ano de 2024 disputou o segundo Jogos Olímpicos. Ela falou sobre os desafios que enfrenta na vida de atleta profissional.

"O esporte de alto rendimento é um lugar onde existe a pressão, mas todo atleta de alto rendimento precisa de um acompanhamento psicológico para poder lidar de forma melhor. Só a gente sabe do nosso dia a dia, do tanto que a gente trabalha, que treinamos, do tanto que a gente abdica. Então, apesar de saber que existe essa pressão do público de fora, tentamos focar no nosso, no que precisamos fazer. O que as pessoas esperam, não temos controle, a gente tem controle das nossas ações. Então, vamos sempre atrás do que queremos e tendo consciência dos nossos limites, e de que nem sempre as coisas vão sair do jeito que esperamos, mas com o trabalho duro e muito treino a gente vai conseguir chegar lá cedo ou tarde”, relatou a atleta sobre a pressão no alto rendimento.

Reprodução: redes sociais

 

A ginasta também comentou que, apesar de estar adaptada à rotina, a distância da família é uma das partes mais difíceis da vida de atleta. 

"Como ginasta, a parte mais difícil para mim é a falta que sinto da minha família. Às vezes você quer estar com eles, mas está distante, né? Deixei a minha casa para morar em Aracaju com 15 anos, então, para mim, a saudade é a parte mais difícil. Mas chega um momento em que você já está adaptada. E quando é um ambiente em que você ama estar, fica mais fácil”, disse.

Quanto aos desafios como capitã da seleção de conjunto de ginástica rítmica, Duda relatou que o desafio é grande, pois sempre quer ajudar e tirar o melhor das suas companheiras. 

"É porque você sempre quer ajudar todo mundo, e como capitã, eu acho que é um desafio grande, você sempre quer tirar o melhor das suas colegas e companheiras de time, então isso é um desafio. Mas o fato de ter boas ginastas, boas pessoas, as meninas são ótimas, não só como atletas, então isso acaba ajudando bastante porque a gente virou uma família”, continuou.

A atleta alagoana coleciona três medalhas de ouro no Pan-Americano de Ginástica do Rio de Janeiro, em 2021. Mais quatro medalhas em mundiais, sendo duas de ouro. Ela sagrou-se campeã mundial, na etapa de Portimão, em Portugal, com os cinco arcos, em 2023, e na etapa de Cluj-Napoca, na Romênia, com as três fitas e duas bolas, também em 2023. 

As outras duas medalhas também vieram nas etapas de Cluj-Napoca, uma de prata nos cinco arcos, e uma de bronze no grupo geral. 

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Jogos Olímpicos de Tóquio 2021 e Paris 2024

Duda disputou o seu segundo Jogos Olímpicos em 2024. O primeiro foi em Tóquio, que aconteceu em 2021, devido à pandemia da Covid-19. A tão sonhada medalha olímpica ainda não veio, mas a ginasta segue entusiasmada para buscar o pódio nas Olimpíadas de Los Angeles 2028.

"Treinamos muito, nesse ciclo mais curto, de três anos, já que a Olimpíada de Tóquio foi em 2021 devido à pandemia. Abdicamos de muitas coisas, mas tudo valeu a pena. Queríamos uma medalha em Paris, tínhamos tudo para conseguir, mas os planos de Deus eram diferentes dos nossos. Então, a lição é essa, temos que dar o nosso melhor, o nosso 100% todos os dias, se entregar completamente no processo, porque no final, independente do resultado, vai ser consequência, sabe? Estamos com o coração tranquilo e leve de que demos o nosso melhor e que não era para ser dessa vez, mas vamos continuar trabalhando firme para na próxima Olimpíada voltarmos com uma medalha”, relatou.

Reprodução: redes sociais

 

Visibilidade dos atletas em esportes olímpicos

Tanto atletas da ginástica rítmica quanto de outros esportes ainda enfrentam muitas dificuldades devido a investimentos baixos e à falta de patrocinadores. Isso é consequência da baixa visibilidade que determinados esportes enfrentam. Porém, diante da onda de acompanhamento que as olimpíadas de Paris tiveram através da TV e da internet, esta realidade pode ser transformada nos próximos anos.

"Eu acho que não só a ginástica rítmica, mas muitos outros esportes acabam não tendo tanta visibilidade e, consequentemente, não tendo tanto investimento. Mas o Brasil é um país muito forte, tem muitos talentos. Então, eu acho que o que afeta é realmente isso. Precisamos desse apoio, desse investimento que estamos recebendo, graças a Deus, da nossa confederação, do Comitê Olímpico e dos nossos patrocinadores. Esse último ciclo foi maravilhoso para nós."

Duda completou falando da importância de mais investimentos para que os atletas continuem alcançando grandes marcas. 

"Claro que a gente quer mais, precisamos de mais, mas aos poucos estamos conquistando cada vez mais patrocinadores, mais empresas estão olhando para nós, o público está nos olhando e é isso. Esse investimento que fazem em nós vai para a nossa carreira, vamos atrás de competições internacionais, treinadores, estágios, cursos, para ir aprimorando cada vez mais e conseguir resultados melhores para o esporte brasileiro”, finalizou. 

 

 

*Estagiários sob supervisão da editoria