O presidente Lula não tem alternativa a não ser a demissão do ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida. No fim da tarde desta quinta-feira, 5 de setembro, veio à tona a notícia de que o ministro é alvo de acusações de assédio sexual. O caso foi revelado pelo portal Metrópoles e confirmado em seguida pela Folha de S. Paulo. Uma das vítimas é Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial, que relatou episódios a colegas do governo.

Anielle é irmã de Marielle Franco, a vereadora assassinada no Rio em 2018. Segundo a Folha, as situações envolvendo Almeida são comentadas no governo há vários meses. Horas após a imprensa noticiar o caso, o ministro divulgou nota. “Repudio com absoluta veemência as mentiras que estão sendo assacadas contra mim”, afirma o texto. Segundo ele, haveria um movimento planejado, uma trama para derrubá-lo do cargo que ocupa.

Segue a nota de Almeida pela qual nega o assédio: “Repudio tais acusações com a força do amor e do respeito que tenho pela minha esposa e pela minha amada filha de um 1 ano de idade, em meio à luta que travo diariamente em favor dos direitos humanos e da cidadania neste país”. Até a noite desta quinta, Anielle Franco não havia se manifestado publicamente. O Palácio do Planalto, por enquanto, também não se manifestou.

Mas o governo não pode, é claro, escolher a omissão. Segundo a imprensa, Anielle teria mantido silêncio para não provocar um escândalo e prejudicar a gestão Lula. Sendo verdade, isso apenas piora as coisas. A denúncia ganha consistência diante da posição do Me Too Brasil, organização que atua na defesa de mulheres que sofrem violência sexual. São relatos de mais de uma vítima, afirma a entidade também em nota.

A resposta do ministro é previsível e não muda a gravidade do que está sendo divulgado. Já o presidente Lula está numa sinuca de bico. Qualquer gesto que pareça conivência desmoraliza o discurso deste governo. Afinal, o combate à violência contra a mulher é uma das bandeiras mais caras adotadas pela gestão do petista. Não se trata de condenar sumariamente o ministro, mas os fatos exigem um gesto sem opacidade.

Diante das denúncias, será além do surreal se a ministra e o ministro continuarem em seus cargos, convivendo como se nada houvesse acontecido. Não tem lógica. O governo passaria a imagem de que cuidou de um arranjo para enterrar um caso gravíssimo. É evidente ainda que isso ficaria carimbado no governo como uma mancha irreparável. A investigação deve ser rigorosa de qualquer jeito, com transparência, sem jogo de cena.

Uma coisa, no entanto, não segura a outra. Ou seja, Silvio Almeida precisa deixar o cargo, inclusive para o melhor andamento das apurações. Mas tem de ser demitido, sobretudo, porque suas condições para se manter no posto simplesmente evaporaram. Quanto mais tempo ficar na cadeira, pior para ele e para Lula – é uma constatação incontornável. A Presidência deve se manifestar nesta sexta-feira. A conferir.

E, finalmente, Lula e o governo precisam deixar claro que direitos humanos e combate à violência contra a mulher não têm ideologia. Não importa se é de esquerda ou de direita, petista ou bolsonarista. Um abusador é um abusador, e assim deve ser tratado pelos órgãos de investigação e pela Justiça. Lula, reitero, tem apenas um caminho a seguir.