Deu a lógica. Como escrevi poucas horas após a notícia de assédio sexual vir a público, o presidente Lula não tinha outro caminho a seguir, a não ser a demissão de Silvio Almeida do Ministério dos Direitos Humanos. Ele é alvo de denúncias de várias mulheres, segundo a ONG Me Too Brasil. Entre as vítimas estaria a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, que divulgou uma nota contundente na noite desta sexta-feira.

Foi a primeira manifestação pública da ministra sobre o episódio. No texto, ela não fala diretamente de Silvio Almeida, mas deixa claro que, sim, foi alvo das investidas do antigo colega de ministério. Anielle lembra que mulheres e meninas são expostas no Brasil, de forma rotineira, a situações de abusos e violência. Ao oficializar a demissão, o governo também soltou uma nota na qual fala de fatos inaceitáveis e “graves denúncias”. 

A demissão não encerra o caso, que precisa ser devidamente investigado para que se conheça toda a verdade. Mas, antes que isso venha a ocorrer, não haveria condições políticas para a permanência do ministro. Ele afirma repudiar as acusações e aponta para uma trama para derrubá-lo do cargo. Lula, no entanto, não deu margem para prolongar a situação mais do que incômoda para o governo. Agiu rápido para conter estragos.    

O caso deve provocar reflexão sobre essa tragédia brasileira que é a violência sistemática contra a mulher. Não estamos diante de uma exceção, mas de uma regra perversa. Em ambientes do setor público e no mundo empresarial, é o que temos como tradição. São nos espaços de poder que abusadores agem sob a cumplicidade de suas turmas. O país precisa aprimorar mecanismos rigorosos de controle em repartições e empresas.     

A realidade, porém, ainda está longe desse estágio que garanta segurança para que uma mulher trabalhe e viva em paz. O que temos – inclusive com episódios recentes aqui em Alagoas – é a proteção de criminosos que agem na certeza da impunidade. Dinheiro e poder predominam sobre a necessidade da denúncia e da investigação. Um delinquente protege o outro, e assim a vida segue. Eis uma causa de todos. A alternativa é o abismo.