Em plena agitação da corrida eleitoral, a política domina ainda mais o noticiário na imprensa profissional e em todos os ambientes de circulação de informações. Nada mais natural. Se em clima de “normalidade”, o jogo político não sai das manchetes, em tempos de eleição não se fala de outra coisa. Ou quase. Para rivalizar com a pauta sobre pesquisa, voto, alianças e eleitor, vamos de Deolane Bezerra. Caso sério.

A advogada que o Brasil conheceu um dia desses está presa numa penitenciária de Pernambuco, acusada de integrar uma organização criminosa. O grupo operava um esquema de jogos ilegais e lavagem de dinheiro. O negócio, diz a investigação policial, movimentou até ontem um trocado superior a 3 bilhões de reais. Esse tipo de escândalo virou algo corriqueiro no país e já rendeu prisões inclusive em Alagoas.

Mas eu disse que o país descobriu Deolane há algum tempo. Na verdade, ela ficou conhecida em 2021, após a morte do namorado, um MC que fazia o tipo ostentação, marca registrada desse movimento cultural que arrasta multidões em redes sociais. A tragédia pessoal mudou a vida da advogada, que se harmonizou em subcelebridade, influenciadora e multimilionária. Seu auge foi participar de A Fazenda, da Record TV. 

Operação policial como a que atinge Deolane virou rotina nos últimos tempos. No centro de todos os casos estão as empresas de apostas online. É um fenômeno que vem causando terremoto na vida de milhões de pessoas. Rapidamente, a febre dos jogos parece ter tomado conta dos quatro cantos do país. E para fazer o negócio explodir, os novos empresários perceberam que o caminho certeiro passa pelos influenciadores.

Em junho escrevi aqui sobre a possibilidade de uma “celebridade” virar presidente do país. Citei Carlinhos Maia, Felipe Neto e Whindersson Nunes, entre outros. Três meses depois, devo acrescentar Pablo Marçal e Deolane Bezerra. Há vários outros com o mesmo potencial. Dinheiro, isso eles já garantiram. E a grana, além de fator decisivo para viabilizar uma candidatura, é o grande cabo eleitoral dessa turma revolucionária.

Qual a grande qualidade dos influenciadores? Todos são admirados pela ostentação. No lugar de propostas sobre educação e saúde, a credencial para ganhar a eleição é ser rico, muito rico. É assim que Marçal ameaça levar a prefeitura de São Paulo – a maior metrópole da América do Sul. Deolane não é candidata, mas, depois da “prisão injusta”, daqui a dois anos, quem sabe? É a clássica janela de oportunidade.

Os influenciadores digitais ditam regras e estimulam desejos. Por isso, metem o pé na porta das velhas redações e forçam a imprensa a levá-los às manchetes. É só o começo.