A um mês e pouco para o dia do voto, as eleições municipais perderam o pódio de assunto mais discutido na imprensa brasileira. Uma série de reportagens da Folha de S. Paulo está no topo dos debates há uma semana. No centro da zoeira está o ministro do STF Alexandre de Moraes. O jornal revelou que ele teria tomado decisões “fora do rito” em investigações contra bolsonaristas acusados de produzir e espalhar fake news.

Para além do conteúdo, o caso tem alguns aspectos inesperados. O primeiro é que um dos autores das matérias na Folha é o jornalista Glenn Greenwald. É o mesmo cara que revelou os crimes da operação Lava Jato ao publicar os diálogos entre Sergio Moro e os procuradores adestrados do Ministério Público Federal do Paraná. Logo, as comparações entre os dois episódios foram automáticas. Mas são situações bem distintas.

A Vaza Jato desmoralizou o juiz parcial e seus parças do MPF. A turma se empenhava em forjar provas, arrumar testemunhas e combinar ações, driblando regras básicas no devido processo legal. A indústria de delações enriqueceu advogados e elevou o patrimônio de promotores. No aspecto político, era um projeto sob encomenda para fulminar Lula da Silva e seus aliados. O resultado foi Bolsonaro presidente.

Nada disso aparece nos diálogos revelados agora pela Folha. Temos um juiz auxiliar do STF e um integrante do TSE trocando informações sobre demandas do ministro Alexandre de Moraes. Xandão age em pleno acordo com suas funções durante o período em que as conversas foram gravadas – além da cadeira no Supremo, ocupava também a presidência do TSE. Não há qualquer ato fora do previsto no ordenamento legal.

O que a Folha classifica como “fora do rito” seria a ausência de ofícios entre STF e TSE nas medidas solicitadas ao juiz e ao diretor dos dois tribunais. Moraes foi defendido por um batalhão de autoridades – dos três poderes e de diferentes esferas políticas. Até agora, não apareceu nenhuma vírgula que indique algum delito por parte do ministro. E não há perigo de nenhuma investigação ser anulada – como ocorreu na Lava Jato.

Mas tudo isso é complexo. Volto ao tema, com outros aspectos, no próximo texto.