A imprensa ressalta todo dia que a eleição para prefeito de São Paulo será a mais nacionalizada do país. Ou seja, é a disputa em que o eleitor estaria no centro da polarização entre lulismo e bolsonarismo. Guilherme Boulos, do PSOL, com o apoio do presidente Lula, e o prefeito Ricardo Nunes, do MDB, nos braços de Bolsonaro, levariam a campanha para a guerra que divide o país nos últimos anos. Mas não é bem assim.

Essa é a conclusão que se pode tirar do primeiro debate entre os aspirantes ao cargo, realizado nesta quinta-feira pela Band TV. Acompanhei o embate que começou às 22h30 e durou até pouco depois da meia-noite. Ao contrário do que diziam reportagens e análises de colunistas, Lula e o ex-presidente praticamente não se tornaram pauta entre os debatedores. Em apenas dois momentos, Lula e Bolsonaro foram citados.

O que predominou mesmo foram os temas locais. Lembrando que Pablo Marçal (PRTB) e Luiz Datena (PSDB) têm mais afinidade com o jeitão do ex-presidente. Mas também eles passaram longe de qualquer defesa das ideias do “mito”. Tabata Amaral (PDT) tentou figurar como alguém que dialoga com todas as forças, incluindo o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Não houve um confronto “ideológico” como alguns esperavam.

O aloprado Marçal chegou a verbalizar, mais de uma vez, aquela vigarice de associar Boulos a Venezuela, Hamas e ditaduras de esquerda. Não colou. Aliás, o coach tentou, mas não consegui, transformar o debate num circo para suas redes sociais. Trata-se de um desqualificado em todas as dimensões, produto típico do mundo virtual. Condenado por roubo a banco, de longe, é o pior candidato na eleição paulistana.

O prefeito foi o saco de pancada durante todo o programa. Mas conseguiu reagir e, tenho a impressão, saiu do evento mais forte do que entrou. Boulos também se mostrou em bom desempenho, escapando das pegadinhas do picareta Marçal. Tabata investiu no perfil técnico, demonstrando domínio sobre dados da realidade da cidade. Mas não chegou a se destacar a ponto de aumentar o apoio que tem nas pesquisas de voto.

Mesmo com regras rígidas, o debate na Band – o primeiro de 2024 – foi agitado. Com a vertigem das redes sociais, não é nada fácil medir a influência que um bate-boca ao vivo entre candidatos pode ter na campanha. Se o eleitor não se liga no momento da transmissão, fatalmente será afetado pela repercussão na internet. Muita gente acha que o formato está ultrapassado, mas a relevância dos debates está longe de acabar.