Silvio Santos foi internado no hospital Albert Einstein, em São Paulo, no último dia primeiro deste mês. Dois dias depois, o jornal O Globo informou o seguinte: “Estado de saúde do apresentador preocupa os médicos”. Ora, um paciente de 93 anos de idade, com problemas recorrentes de saúde nos últimos tempos, não deveria “preocupar” a equipe médica? O fato é que a informação do jornal carioca provocou alvoroço geral.

Filhas do empresário “desmentiram” a gravidade do quadro. Segundo elas, o pai se encontra em boas condições e está no hospital para alguns exames. Não foi o bastante para arrefecer uma onda de notícias que falavam de algo mais sério. O UOL publicou que equipes do SBT foram escaladas para um plantão na madrugada, caso a programação tivesse de ser interrompida para informar “possível morte de Silvio Santos”.

Veja como a parada vai ficando cada vez mais maluca. E isso não acontece do nada. Nesse campo, a imprensa tem uma história cheia de capítulos escalafobéticos. A morbidez “natural” na sociedade se encontra com o vale-tudo de um jornalismo à caça da informação a qualquer custo. Nas ocasiões em que as coisas saíram de controle, a imprensa se antecipou à realidade e noticiou a morte de alguém ainda vivo. Aí é vexame.

Em abril de 2022, a Folha publicou a morte da rainha Elizabeth 2ª, num longo obituário assinado pelo repórter João Batista Natali. O problema é que a resistente monarca ainda estava entre nós e só morreria dali a cinco meses. O jornal disse que “houve erro técnico” e lembrou que “é praxe no jornalismo preparar com antecedência textos acerca de cenários possíveis e/ou prováveis, como a morte de líderes e celebridades”.

Também em 2022, a mesma Folha se meteu em outra polêmica sobre casos do tipo. Quando Pelé estava hospitalizado, o jornal publicou que o atleta recebia cuidados paliativos por não responder mais ao tratamento quimioterápico. A reportagem descrevia detalhes das “medidas de conforto para aliviar a dor e a falta de ar”. Foi uma forma indireta de noticiar que o quadro do paciente era irreversível, de morte iminente.   

O caso Silvio Santos e O Globo se assemelha ao de Pelé e a Folha. Assim como a família do apresentador, a do jogador também desmentiu o noticiário e garantiu que o rei do futebol estava bem. Ele morreu dias depois da reportagem, em dezembro daquele ano. 

A situação delicada requer precaução por parte da imprensa. A corrida pela notícia não pode atropelar a ética profissional e o respeito ao personagem e sua família. Se costuma errar em ocasiões festivas, o jornalismo também se complica à beira da morte.