O que o mundo lá fora tem a ver com os rumos da vida brasileira? Durante as campanhas eleitorais, institutos de pesquisa vão às ruas perguntar ao eleitorado quais são problemas das cidades, dos estados, do país. E na cabeça do brasileiro, alguns temas se revezam na ordem de prioridade, mas são sempre os mesmos. As circunstâncias podem mudar o peso de cada um, mas nada produz uma nova preocupação. É assim há décadas.
A cada eleição, ficamos sabendo que, de novo, segurança, saúde, educação e transporte figuram entre as áreas com mais problemas, segundo as pesquisas. Além destes, o eleitor pode lembrar ainda de saneamento básico, moradia, emprego e meio ambiente. Esticando a lista, entrevistados citam o custo de vida, o trânsito, a fome e a limpeza urbana como demandas à espera de soluções. É um conjunto amplo e desafiador para governantes. Encrenca é o que não falta no dia a dia de milhões de pessoas.
Você nunca deve ter ouvido falar de alguma pesquisa que tenha captado preocupação dos brasileiros com as relações internacionais do país. E não ouviu porque isso de fato não existe entre o eleitorado brazuca. Nenhum candidato a presidente ganhou ou perdeu votos por defender isso ou aquilo sobre política exterior. Nos Estados Unidos, sim, tão importante quanto as ideias para dentro são as intenções para outras partes do mundo.
Metidos em conflitos bélicos espalhados em diferentes continentes, os norte-americanos dão peso decisivo a essas questões nas escolhas presidenciais. Nunca foi o caso no Brasil. Vai mudar algum dia? País que recebeu imigrantes dos quatro cantos do planeta, aqui não prosperou a xenofobia vista em tantos lugares no exterior. Guerras localizadas também não temos – e passamos, portanto, muito longe de dramas assim.
Na última década, com aquela pegada entre a ignorância e a patetice, a ultradireita criou a categoria político-diplomática “Vai pra Cuba”! Foi a forma encontrada para acusar Lula de financiar ditaduras de esquerda. Foi também a harmonização cerebral da tagarelice udenista contra o perigo comunista. A histeria dos rapazes de bem e da nova política não é lá muito criativa nesse sentido. Há uma semana, o caso Venezuela revigora a artilharia.
Bolsonaristas e reacionários crônicos esbravejam contra Lula, “o amigão do ditador Maduro”. O chilique produz zoada, é verdade, mas é remota a possibilidade de que o tema tenha aquele papel que as questões internacionais têm para o eleitorado que escolhe o morador da Casa Branca. Taí algo que não muda de uma hora para outra.