Por conta da decisão da direção nacional do Partido dos Trabalhadores, influenciada pelo trabalho de bastidores do senador Renan Calheiros (MDB), o PT local teve que abrir mão de ter sua candidatura própria à Prefeitura de Maceió.

Assim, o ex-vereador Ricardo Barbosa teve que desistir de disputar a majoritária e deixar a Federação – formada pelo PV, PT e PCdoB – indicar o vice do candidato emedebista, o deputado federal Rafael Brito (MDB).

Ou seja: o PT foi atropelado em nome da “manutenção” do bloco de apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula (PT), em Maceió. O PT terá que apoiar Brito.

O máximo de independência conquistada pela ala dos petistas locais que defendiam a tal autonomia partidária no pleito foi não indicar o vice de Rafael Brito, com isso abriu uma lacuna da qual a Federação, muito por conta dos deputados estaduais Sílvio Camelo (PV) e Ronaldo Medeiros (PT), não abriu mão.

Medeiros até tentou fazer de si mesmo o vice, conforme informações de bastidores, mas não conseguiu em razão da briga interna aberta dentro do PT. Há cicatrizes devido ao atropelamento…

Resultado: o nome de Gaby Ronalsa ganhou força às vésperas da convenção que sacramentou o ungido do senador Renan Calheiros (MDB) – o deputado federal Rafael Brito – na disputa vivenciada na capital alagoana.

Gaby Ronalsa pertence aos quadros do PV, é um nome da Federação, mas o conjunto de valores que defende e as pautas que encampa na política possuem uma distância enorme do que é defendido pelos progressistas.

Ronalsa é abertamente pró-vida (totalmente contra o aborto), faz duras críticas a movimentos feministas, critica as militâncias progressistas, defende valores cristãos, é católica praticante e – dentro da Câmara Municipal de Maceió – já se posicionou, em diversos momentos, a favor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e contra o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula (PT).

Em outras palavras, a vice de Rafael Brito é mais à direita do que à esquerda. Não bastasse o PT ser obrigado a sair de cena, a Federação da qual faz parte ainda ocupa o espaço que poderia ter sido de alguém mais próximo das ideias da legenda, com uma vereadora que pensa quase que totalmente o oposto no chamado “campo das ideias”.

O PT de Maceió sofre uma humilhação neste pleito: 1) não conseguiu sustentar sua candidatura; 2) foi atropelado pelo diretório nacional, sendo tratado como um apêndice em nome de projetos maiores e 3) terá que apoiar um candidato que tem como vice alguém que defende tudo aquilo que o PT discorda. Gaby Ronalsa foi, portanto, a “cereja do bolo” nesse pacote.

Não por acaso, como mostrou a jornalista Vanessa Alencar (aqui no CadaMinuto) em seu mais recente texto, há progressistas completamente insatisfeitos com essa escolha. E para piorar, vamos às falas de Ricardo Barbosa, na recente entrevista ao jornalista Voney Malta (também aqui no CadaMinuto): “Vamos apoiar a chapa Rafael Brito e Gaby Ronalsa e não vamos impor condições. Se houver contradição não será do PT”.

A contradição já é do PT, só não é do PT local, que não conseguiu apitar em nada neste jogo a não ser aceitar sem impor condições.

Só restou ao PT de Maceió olhar para o caminhão que passou e anotar a placa...  O PT quis entrar na brincadeira, mas descobriu que é “café-com-leite”.