“Sou completamente contra mictórios em banheiro feminino”. Esse importante pensamento é do vereador de Maceió Siderlane Mendonça, do PL. Mas o que diabos é isso? Em seu blog aqui no CM, a jornalista Vanessa Alencar explica o que houve. A exótica declaração do parlamentar da capital decorre de um vídeo que viralizou nas redes sociais. E, a gente sabe, quando viraliza, a política entra em campo.

Pelo que entendi, o tal vídeo foi levado às redes como uma “denúncia” contra o Shopping Pátio, localizado na região do Benedito Bentes, às margens da Via Expressa. Uma mulher narra o que é exibido como se fosse o interior do banheiro feminino do centro de compras. Pelo jeito, é uma mente perturbada pelo bolsonarismo, no combate à “ideologia de gênero”. Haveria “mictórios” no ambiente para o público feminino.

O vereador decidiu defender o shopping da “grave acusação”. Ele foi até o local e, com autorização da empresa, gravou seu próprio vídeo. O banheiro da mulher é apenas para mulher mesmo, constata aliviado o representante do povo. Siderlane anuncia que, “se houver interesse” de algum shopping nesse outro “tipo de banheiro”, ele sugere “a construção de um unissex”. A causa é o direito da mulher “a um banheiro próprio”.  

Tudo errado, de ponta a ponta. O mais leve nesse episódio é a motivação do vereador. O Benedito Bentes é seu bunker eleitoral, onde o Pátio está instalado. Espanta que a direção de uma grande empresa tenha concordado com a presepada. No fundo, o que temos aí é o reiterado preconceito contra mulheres trans. Aliás, este shopping já aprontou nessa área. Pelo visto, não aprendeu nada e segue com uma queda pelo erro.

Em maio deste ano, o Pátio e uma empresa de segurança foram condenados a indenizar em 15 mil reais uma mulher trans impedida de usar o banheiro feminino. O caso ocorreu em 2020 – um episódio repugnante com a participação também de policiais militares. Escrevi sobre o assunto em 12 de janeiro daquele ano. Está no arquivo para conferir.

O Brasil é o país que mais elimina pessoas trans no mundo. Em 2022, foram 131 assassinatos, segundo o Ministério dos Direitos Humanos. Em 2023, o número subiu para 145 homicídios. O vereador e o shopping Pátio deveriam se preocupar com essa estatística trágica, e não fazer um carnaval que contribui para a transfobia que mata.