Um ambiente da ciência, da razão e do conhecimento tomado de assalto pela adesão ao negacionismo. Em 2020, o ano da pandemia de Covid 19, o país descobriu que o Conselho Federal de Medicina havia escolhido o atraso como visão de mundo. O poderoso CFM virou um puxadinho de Jair Bolsonaro, o presidente que fez do achincalhe à ciência brasileira um de seus esportes preferidos. Como isso foi possível?

Não tenho resposta, mas, diante de tudo o que se viu nesses últimos anos, não chega a surpreender o estado de coisas na turma da elite do jaleco branco. Ainda que não surpreendente, não deixa de estarrecer a postura de profissionais da medicina que agiram na defesa do governo que instalou no país a política da morte. Entre os princípios da ciência e o projeto de Bolsonaro, o CFM se rebaixou para servir ao “mito”.

Enquanto milhares de pessoas morriam, o presidente da entidade à época, Mauro Ribeiro, insistia na conversa de “tratamento precoce”, à base de medicamentos ineficazes. Para isso, não teve vergonha de ir na contramão até da Organização Mundial da Saúde. Bolsonarista fanático, este elemento foi investigado na CPI da Covid, mas nada lhe aconteceu. Deveria estar preso. Segue à solta com sua empáfia ridícula.  

O Conselho mudou de comando em 2022, mas o obscurantismo é o mesmo. José Hiran Gallo (foto) mantém a entidade como lambe-botas do bolsonarismo. Quando Bolsonaro se elegeu em 2018, ele publicou artigo com o infame título de “A esperança venceu o medo”. A idiotia foi publicada no site do Conselho Regional de Rondônia, origem do doutor Gallo. É um engajamento depravado como nunca se viu na área.

Este ano, Hiran Gallo deu mostra de sua mentalidade poluída pelas ideias da ultradireita. Numa sessão grotesca do Senado sobre o PL do aborto, ele disse que “a autonomia da mulher tem limites”. É mais um macho que se arvora a policiar o direito das mulheres sobre seus corpos. Faz sentido. O PL do estupro foi inspirado em resolução do CFM. A pressão das ruas barrou, por enquanto, a aberração política. Mas pode voltar. 

Em Alagoas, a toada é a mesma. Em 2020 escrevi neste blog sobre a postura do comando do Cremal. Fernando Pedrosa, presidente à época, se insurgiu contra o trabalho do governo estadual no enfrentamento da Covid. Foi na mesma linha do negacionismo da entidade federal. Uma vergonha. O Cremal também trocou de direção – mas não de pensamento. O bolsonarismo segue dando as ordens por aqui.

Nos dias 6 e 7 de agosto, haverá eleição para novos conselheiros federais. Cada estado elege dois nomes. Leio na imprensa nacional que o processo corre no meio do lamaçal. Médicos estão recebendo mensagens em massa cobrando voto nas chapas “anti-Lula”. Até Luciano Hang, o veio da Havan, está metido na campanha, como ele mostra em suas redes sociais. É isso mesmo que você leu. Por aí dá para medir a degradação do covil.

Profissionais da medicina! Em que estágio o país foi bater com Bolsonaro e o fanatismo político! É muita exclamação, eu sei, mas uma calamidade como esta não é para menos. O lixo moral que vigorou durante a pandemia de Covid 19 segue como padrão no CFM.