A extrema direita em geral e o bolsonarismo em particular escolheram a Justiça Eleitoral como um de seus inimigos permanentes. O ataque às urnas eletrônicas e as falsas acusações de fraude nas eleições são recorrentes. Mesmo eleito em 2018 no aparato do sistema de votação, o “mito” mentia sobre o resultado daquela disputa. Para o farsante, sua vitória sobre Haddad teria sido com muito mais votos do que os dados oficiais.

Com essa lógica, ele tentou fulminar o processo eleitoral de 2022 – antes mesmo da votação que o derrotaria. Como ocorre nesses casos, a farsa vai ganhando adeptos e passa a ser um modo de agir “natural”. Assim, qualquer situação negativa para os seguidores de Bolsonaro – e para seus satélites da ultradireita – é tratada como sem validade. Mesmo cassado e inelegível, o sujeito se candidata. Quer a virada de mesa.

Escrevo isso após ler a notícia sobre o ex-vereador paulistano Camilo Cristófaro. Ele perdeu o mandato em setembro do ano passado após um processo por quebra de decoro. Em 2022, ele foi flagrado numa fala racista durante um embate na Câmara Municipal de São Paulo. O elemento usou a expressão “isso é coisa de preto”, com o claro objetivo de atacar opositores recorrendo ao racismo. Foi cassado, ainda bem.

A decisão deixa o político inelegível por oito anos. Mas Camilo Cristófaro estará na convenção do Podemos neste sábado para oficializar sua candidatura a vereador. Ou seja, aposta numa chicana jurídica para driblar os efeitos da lei. Por que ele se sente à vontade para tal extravagância? Porque Bolsonaro e sua seita pregam o atropelo ao ordenamento legal. O que vale é o rolo compressor dos patriotas e da “vontade de Deus”.

Deltan Dallagnol, o delinquente da gang da Lava Jato, ensaiou o mesmo teatro de patifaria. Até dois meses atrás era pré-candidato a prefeito de Curitiba. E estava praticamente em campanha antecipada, com aquela desenvoltura criminosa que exibia ao lado de Sergio Moro. Também cassado e inelegível, por decisão do TSE, o rapazinho agia como se pudesse passar por cima da lei – como fez durante aquela operação.

Mas Dallagnol se tocou. Ele sabe que a Justiça não permitirá o vexame de candidaturas que seriam a desmoralização do TSE. Também entendeu que chilique em rede social até atrai equivocados, mas não muda a realidade estabelecida. Bolsonaro trafega por esse delírio e incentiva apoiadores a seguir a trilha. O inelegível até 2030 força a barra na busca por uma impossível anistia. O trambique é a regra dos salvadores da pátria.