Neste mês de julho, o registro do primeiro caso, em Alagoas, de Febre do Oropouche, doença emergente na região amazônica, em um paciente oriundo da cidade de Japaratinga, colocou em alerta especialistas na área de infectologia. O caso foi diagnosticado no Hospital Escola Dr. Helvio Auto (HEHA).
Em entrevista exclusiva ao CadaMinuto, o médico infectologista Fernando Maia abordou os principais aspectos da enfermidade, até então pouco conhecida no estado, e expressou preocupação com a disseminação da doença, uma vez que a população local nunca foi exposta anteriormente: “Monitoramento contínuo e ações preventivas são fundamentais para mitigar complicações associadas à febre Oropouche”.
Originária da Amazônia, a Febre Oropouche é causada por um vírus transmitido principalmente pela picada do maruim. Estudos recentes indicam que o mosquito muriçoca também pode estar envolvido na cadeia epidemiológica da doença, ampliando as preocupações sobre sua disseminação.
Fernando Maia destacou que os sintomas iniciais da febre assemelham-se aos do dengue, incluindo febre, dor de cabeça e dores pelo corpo. Para a maioria dos pacientes, esses sintomas são autolimitados, mas uma pequena porcentagem pode evoluir para uma forma grave, que pode evoluir para complicações neurológicas, paralisia e diminuição do nível de consciência, embora tais complicações sejam consideradas raras.
Alerta às gestantes
O médico enfatizou que crianças pequenas, idosos, pacientes imunocomprometidos (como aqueles com AIDS não tratada, transplantados, em quimioterapia ou radioterapia) estão em maior risco de desenvolver formas graves da doença.
Mulheres grávidas também devem estar especialmente alertas, pois há evidências de complicações como abortamento associadas à infecção por Febre Oropouche.
A Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), por meio do Comitê Técnico de Monitoramento das Arboviroses de Alagoas, apresentou, no dia 17 deste mês, orientações sobre transmissão vertical da Febre Oropouche para gestantes.
Por meio da assessoria de Comunicação da Sesau, o chefe do Gabinete Estadual de Combate às Doenças Infectocontagiosas, infectologista Renné Oliveira, explicou que as gestantes entraram no radar da febre pela possibilidade de contaminação fetal, uma vez que foi detectada a presença do anticorpo do vírus em amostras de quatro casos de microcefalia e um caso de abortamento registrados no Brasil.
Lixo e água suja
Fernando Maia prosseguiu alertando que, ao contrário do mosquito transmissor da dengue, que gosta de água limpa e parada, o maruim gosta de matéria orgânica em decomposição, a exemplo de ambiente com muito lixo orgânico e a muriçoca é atraída pela água suja de esgotos a céu aberto, córregos e rios com água poluída.
Para prevenir a doença, Maia recomendou medidas simples, como o uso de repelentes e roupas de mangas e calças compridas para evitar picadas de mosquitos. Além disso, ações de higiene e saneamento são cruciais para controlar a proliferação do mosquito, que se multiplica em áreas com matéria orgânica em decomposição, como restos de alimentos.
Proteção “natural”
Por meio de sua assessoria de Comunicação, especialistas do Hospital Escola Dr. Helvio Auto (HEHA) explicaram Febre do Oropouche é uma doença causada por um arbovírus que foi isolado pela primeira vez no Brasil em 1960. Desde então, casos isolados e surtos foram relatados no Brasil, principalmente a região amazônica. Ultimamente surgiram casos na região Centro-Oeste, na Bahia e, entre maio e julho, nos estados de Pernambuco, Paraíba e Alagoas.
Por enquanto não existem bioinseticidas oficialmente registrados para o combate destes mosquitos. Para afastá-los, recomenda-se o uso de óleos a base de citronela, cravo e folhas de neem aplicados no ambiente, além da utilização de telas de proteção tipo voal nas portas e janelas.