A notícia ruim: segundo a ONU, 8,4 milhões de pessoas passaram fome no Brasil entre 2021 e 2023. A notícia positiva: o número é menor do que o registrado no levantamento anterior, de 10,10 milhões. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira 24/07, durante o encontro de ministros da Fazenda e presidentes do Banco Central do G-20, no Rio de Janeiro. Este é um desafio incontornável para governantes do mundo inteiro.

Em 2023, em todos os países, mais de 700 milhões de pessoas não tiveram o que comer. No evento do G-20, foi lançada a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, um programa conjunto que pretende erradicar essa tragédia nos próximos anos. A realidade de pobreza extrema não combina com o alardeado crescimento de nações embaladas pela utopia digital. A plutocracia do metaverso ignora a miséria das multidões.  

O presidente Lula destacou na reunião que o país conseguiu sair do Mapa da Fome em 2016, durante o governo Dilma. Mas voltou em 2018, a partir do governo Temer, e a situação se degradou durante os quatro anos de Bolsonaro. Nada mais natural que assim fosse. Tivemos um ministro da Economia que chegou a reclamar de empregadas domésticas viajarem de avião. Para o mercado, tudo. Para o povão, o resto.

E o resto eram ossadas, literalmente. Em 2021, o Brasil mostrou ao mundo os resultados das ideias de Paulo Guedes e Bolsonaro para o país. Em diferentes regiões, uma imagem devastadora, como relata o G1 em 27 de julho de 2021: “Em Cuiabá, uma cena chama atenção – a distribuição de pedaços de ossos com retalhos de carne tem formado filas num açougue”. Este é o legado do larápio de joias que levou o país ao buraco.

Cuiabá não foi caso único. Cenas idênticas foram registradas no Rio, em São Paulo e outros estados. A calamidade da falta de comida teve forte redução no primeiro ano do novo governo. Lula prometeu no encontro do G-20 que o Brasil sairá, de novo, do Mapa da Fome até 2026. Para isso, digo eu, o Congresso poderia dar contribuição relevante se diminuísse a voracidade com que ataca o Orçamento da União. Pode ser?

Na gritaria sobre ajuste fiscal, controle de gastos e déficit zero, a atenção aos programas sociais não pode ficar em segundo plano. Tem de ser prioridade. Porque este é um dos caminhos certeiros para o país eliminar um descalabro que soterra a dignidade humana.