Falta pouco para Jair Bolsonaro anunciar apoio a Nicolás Maduro na eleição da Venezuela, marcada para o domingo 28 de julho. A reviravolta ideológica tem explicação simples. Tudo começou quando o presidente venezuelano declarou que, se ele não ganhar a disputa, pode haver um “banho de sangue” no país. Depois emendou afirmando que isso seria culpa dos “fascistas”. Parece uma ameaça clara de guerra civil.

Sempre cobrado a se pronunciar sobre os abusos do regime inaugurado por Hugo Chávez, do lado de cá Lula foi duro como nunca no trato com o camarada sul-americano. O presidente brasileiro afirmou que havia conversado com Maduro e avisado a ele que “quem perde a eleição vai embora”. O petista se disse “assustado” com a referência a um suposto banho de sangue e se mostrou preocupado com os rumos dessa prosa.

Foi o suficiente para o clima mudar entre Lula e Maduro. E, num lance surpreendente, o líder venezuelano reagiu às palavras do brasileiro em duas frentes. Primeiro, sem citar Lula, mas sendo bastante claro, disse que aqueles que ficaram assustados com suas ameaças devem tomar chá de camomila. Depois, a surpresa maior: atacou o sistema eleitoral do Brasil, afirmando que as urnas eletrônicas não são auditáveis.

É mentira. Exatamente como faz Bolsonaro desde sempre. Foi com esse “argumento” que o “mito” agitou sua tropa para atropelar as regras do jogo e desrespeitar o resultado das eleições de 2022. Foi também por esse motivo que Bolsonaro acabou condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral, ficando inelegível até 2030. Agora ganhou um aliado improvável. Nada como converter um notório inimigo a seu exército. O jogo é assim.

Ainda não sei como andam as reações da ultradireita fanatizada por Bolsonaro. O natural é que a turma saia em defesa de Maduro. Na lógica dessa política de ocasião a prioridade é preservar os nossos e relativizar as diferenças diante de um apoio de peso. Maduro fez a mesma acusação contra as eleições colombianas e norte-americanas. 

Tirante os delírios de um lado e de outro, este é o momento mais tenso nas relações entre o Brasil do lulismo e a Venezuela do chavismo. Nunca houve um tranco como o de agora. A eleição por lá ocorre em quatro dias. A oposição lidera as pesquisas com folga. Diante dos últimos acontecimentos, o futuro imediato é perigosamente imprevisível.