Em 2020 o Tribunal Superior Eleitoral lançou a campanha Fique do Lado da Democracia – Seu Voto tem Poder. Já era uma reação às investidas de Jair Bolsonaro contra as urnas eletrônicas. Na verdade, desde o primeiro ano de mandato, ele começara os ataques que foram escalando no tom golpista que marcaria todo o governo do capitão da tortura. O auge, como se sabe, foi a quebradeira do 8 de janeiro de 2023 em Brasília.

Nos últimos anos, o TSE manteve a pegada em suas peças institucionais, ressaltando a lisura e a legitimidade das eleições brasileiras. O visual da propaganda se renova, mas o slogan parece definitivo: Justiça Eleitoral – a Justiça da Democracia. É como se fosse o contra-ataque permanente ao discurso golpista que embala até hoje a ultradireita fiel ao bolsonarismo. Afinal, as vozes do atraso e da farsa seguem em ação.

No ambiente daquele jornalismo padrão Augusto Nunes virou um mantra contestar a existência de uma Justiça exclusiva para cuidar das eleições. “Isso só existe no Brasil, é mais uma jabuticaba”, gostam de repetir os integrantes dessa turma. E o primeiro exemplo lembrado por eles é justamente os Estados Unidos. Se lá não existe, então não deveria existir aqui também. É um raciocínio tão idiota quanto interesseiro, claro.

Bolsonaro adoraria que não houvesse no país uma Justiça Eleitoral e um tribunal superior para julgar os crimes que ele cometeu. Lógico. É precisamente por isso que Donald Trump pode concorrer à presidência norte-americana depois de tudo o que fez. Lá, a invasão do Capitólio (replicado aqui no 8 de janeiro) não deu em nada para o principal responsável, ele mesmo, Trump. Um sonho para os patriotas daqui.

Mas não. Nossa “jabuticaba” é uma conquista da democracia brasileira. Graças a sua atuação, rigorosamente dentro da lei, reconhecida na Constituição, um notório marginal não pode ficar livre para disputar uma eleição. Nos Estados Unidos, ao contrário, um condenado na Justiça comum, baderneiro contra as instituições, tem o direito de seguir adiante com as mesmas práticas, ameaçando o regime democrático.

Há reparos a fazer ao Judiciário do país, sem dúvida. Todo sistema pode ser aprimorado. Mas o que sempre foi exemplo de atuação ficou ainda mais relevante nos últimos tempos. Nossa Justiça Eleitoral é um patrimônio que merece – e deve – ser defendido.