O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, é um bolsonarista meio envergonhado. Para pescar votos do segmento fiel ao ex-presidente, reproduz o pensamento do “mito” e declara apoio aos planos delirantes de anistia para o golpista eterno. Mas, quando questionado sobre a influência de Bolsonaro na candidatura, reage com o discurso de “independência” e repudia a nacionalização da campanha. Sabe que por aí é encrenca.

Quem investe tudo na estratégia de nacionalizar a disputa pela prefeitura paulistana é o deputado Guilherme Boulos, o principal adversário do prefeito que tenta a reeleição. Isso se explica porque todas as pesquisas mostram que ter Bolsonaro como padrinho é um peso preocupante, uma “âncora” que puxa a candidatura para baixo. Ao contrário, Lula tem o efeito de turbinar o nome de Boulos no eleitorado paulistano. O jogo passa por aí.

A situação na maior capital do país se reproduz em outros cenários pelo Brasil. É o caso de Maceió. O prefeito João Henrique Caldas, filiado ao PL de Bolsonaro, teme o efeito negativo de aparecer como o candidato na coleira do larápio de joias que tentou um golpe para ficar no poder, impedindo a posse do presidente eleito. Ainda que Bolsonaro tenha vencido Lula na capital alagoana, a imagem do ex-presidente está no esgoto.

Após deixar a Presidência, investigações sujaram cada vez mais o que nunca foi decente. Por isso, JHC não teria muito a ganhar fazendo a defesa do legado de seu político de estimação. Não é fácil ter de exaltar a política da morte na pandemia de Covid, por exemplo. Dureza também é explicar a aliança com um entusiasta da tortura e de milícias. E o que dizer de uma gestão que sabotou a produção científica nas universidades?

Do outro lado, a coisa é diferente. O principal rival de JHC tem o que mostrar do aliado Lula. Para o deputado Rafael Brito, nacionalizar a disputa com o bolsonarista acanhado é bom negócio. Não é preciso muito esforço para exibir avanços do Brasil em menos de dois anos de mandato do presidente. O país deixou de ser um “pária orgulhoso”, como dizia aquele ministro aloprado em aviltante ataque à nossa tradição diplomática.

Dos investimentos em grandes obras às ações em defesa do meio ambiente, há um cardápio para o candidato que pretenda se aliar a Lula. Um prefeito cuida da cidade, claro. Mas é preciso que o gestor tenha ideias humanistas, que respeite a vida e defenda a democracia. Sem essas balizas, estamos perdidos. É relevante para o eleitor conhecer as ideias de qualquer gestor sobre temas cruciais. Aqui, Rafael Brito não tem problema.

Vamos ver como vão se comportar os dois competidores quando chegar a hora da verdade. Esta talvez seja a disputa mais “nacionalizada” numa eleição para a prefeitura de Maceió. Um lulista contra um bolsonarista. Rafael Brito parece que topa o debate. JHC parece que não curte muito essa onda. É o que especulo diante das notícias sobre a corrida pela prefeitura. Quando a propaganda começar pra valer, a tese será testada.