Mundo novo, novas palavras. As duas coisas andam juntas. Quando a vida se transforma pra valer, a linguagem impõe termos e expressões para dar conta de fenômenos até então desconhecidos. São duas dimensões em movimentos simultâneos, digamos assim. A era digital trouxe  enxurrada de verbetes supernovos para traduzir hábitos e ideias dos tempos em mutação. Os três tipos lá do título ilustram a tese aqui rascunhada.

Como nada surge do nada, as novidades têm um pé no que sempre existiu. Uma notícia viraliza quando chega às multidões, quando todo mundo comenta o mesmo fato, quando o assunto cai na boca do povo. Essas situações sempre existiram, mas quando a imprensa diz que algo viralizou parece indicar uma grandiosidade sem precedentes. Viralizar é atestado de circulação universal, o sonho de todo “criador de conteúdo”. 

O brasileiro faz piada com tudo nessa vida, diziam na pré-história. A natureza do meme, porém, nos diz que esse traço cultural não é exclusividade tropical – porque essa capsula humorística é um dado planetário. O termo indica basicamente que a notícia se derivou em galhofa. Se alguém dá uma mancada, cai no ridículo por algum gesto ou declaração, o meme está pronto. Mas o meme clássico é aquele que decorre de assunto sério.

Foi o que ocorreu com o apagão cibernético que afetou o mundo inteiro na semana passada. No cenário brasileiro, parece que um meme de sucesso foi sobre o ministro Fernando Haddad e os impostos sobre o comércio. “Taxad” caiu nas graças de uma bolha. “Bolha”, por sua vez, é mais uma peça no dicionário do metaverso. Como parte de um sistema linguístico, esses termos encenam um teatro solo ou combinado.

A atitude que viraliza tem potencial de virar meme e pode acabar no cancelamento de alguém. Ser cancelado é o pesadelo de anônimos, de subcelebridades e dos realmente famosos. Uma das coisas mais malucas dessa era são os depoimentos de pessoas que aparecem aos prantos, em público, após o decreto de “cancelado”. Para os alvos, é como se fosse a condenação ao degredo às montanhas nevadas da Sibéria existencial.

Nunca uma palavra teve tanto potencial de destruição. Não deveria ser assim, mas a importância que damos às opiniões de terceiros sobre nós é um veneno irresistível.  Isolamento, vergonha, depressão e até suicídio são as consequências conhecidas entre cancelados. Com efeitos de tal gravidade, não dá para tratar com ligeireza esse traço da vida contemporânea. Da comédia ao trágico, o drama avança e viraliza novos estragos.