Jair Bolsonaro se elegeu presidente em 2018, mas a onda de ultradireita já estava a pleno vapor naquela altura. Pode-se estabelecer como marcos iniciais os momentos que vieram logo após as manifestações de junho de 2013. Dilma Rousseff se reelegeu em 2014 com uma diferença de três pontos percentuais sobre Aécio Neves. Os meses seguintes foram de ladeira abaixo para o governo – até a queda pela via do impeachment.

Em 2016, quando a presidente foi destituída, a bagaceira já estava plenamente instalada. Prova incontestável disso é a fala de Bolsonaro na hora do sim no impeachment. O desqualificado teve a coragem de dedicar seu voto a um notório torturador, um criminoso de trajetória abjeta. Num mundo civilizado, o então deputado deveria sair preso daquela sessão. Mas o ambiente havia normalizado a barbárie. E ficou por isso mesmo.

Dali em diante, não havia mais retorno. Corta para 2024. No Brasil e no mundo, um debate incendiou a imprensa nas últimas semanas, despencando para bate-boca em alguns casos. Afinal, o que é “normalizar” a ultradireita? O tema cresceu após o resultado das eleições na França e no Reino Unido. Os britânicos elegeram os trabalhistas e tiraram os conservadores do poder. Será o governo de uma esquerda moderada, dizem por lá.

Na França, a situação foi diferente. A extrema direita cresceu, mas não o suficiente – como se projetava – para comandar o país com plenos poderes. Já dos Estados Unidos, vem o fator Trump para completar o balaio de opiniões que tentam responder àquele dilema sobre como tratar os reacionários. Basicamente, temos os que defendem o diálogo como meio de entender as demandas dos patriotas e os que negam essa ideia.

Como conversar com “fascistas”? A pergunta não é minha, está por todos os lados nesse debate sobre o fenômeno da ultradireita que veio para ficar. Bem, de modo simples e direto, trocar ideias com fascista para valer não dá, é claro. O problema é encaixar tudo num mesmo conceito, igualar o que está cheio de diferenças e nuances. Sobre Bolsonaro, tudo fica mais fácil. Afinal, esse é o que sempre foi. Marginal e golpista.