Depois de Flávia Jannuzzi, foi a vez de Janaína Xavier (foto). Escrevi sobre a primeira no último dia 14. Demitida da Globo, em entrevistas a podcasts pelo YouTube, ela acusou a Globo de aderir a pautas identitárias. Não disse, mas na prática jogou sobre a emissora a marca de “racismo reverso”. A política de gênero estaria dando as cartas na maior TV do país. Janaína, também demitida, conseguiu superar a colega no discurso racista.

Numa conversa com Benjamin Back, a jornalista desfiou uma coleção de ideias um tanto perturbadoras. Disse que sua demissão do Sport TV, em 2022, decorreu do fato de ser “bonita demais”. A cada frase na entrevista, as coisas vão piorando. Hoje em dia, segundo ela, as empresas preferem as mulheres mais “cheinhas”. Candidatas “pretas” levam vantagem sobre outras. E a mulherada está tirando a vaga dos homens!    

As redes sociais tremeram com as falas da loira que se sente discriminada por sua beleza. Uma mostra de seu pensamento sobre o que ocorreu com ela na Globo: “Teve um certo momento em que eu estava me sentindo tratada como ‘você é muito bonita para estar aqui’. E tinha aquela coisa de inserir a menina mais cheinha”. Não parou aí.

Decidida a explicitar com precisão sua visão de mundo, a jornalista vê o abismo e dá um passo adiante: “Na pressa de mostrar a diversidade, quando a questão é contratar uma mulher ou um homem, eles vão na mulher. Uma mulher preta ou branca, vão na preta. Ela é cheinha e fora dos padrões, a outra é muito bonita, perua, vamos na primeira”.

Após a repercussão planetária, a repórter diz não se arrepender de nada e mantém tudo o que disse. Assim como ocorre nesses casos, afirma que tiraram suas declarações de contexto. Todo mundo presta atenção apenas aos “cortes”, e não à íntegra da entrevista no YouTube, alega a indignada Janaína. Mas afinal de onde ela tirou tudo isso?

Sim, a Globo mudou para sempre suas escolhas de elenco e de quadros para as diferentes áreas da emissora. Demorou! Ainda que tardiamente, forçada pelos ventos de um mundo novo, está do lado certo da História. Racista, misógina e preconceituosa em geral – assim era a Globo do passado, não a dos dias atuais. Houve uma grande virada.

Além das novelas e demais produtos na dramaturgia, no jornalismo e no entretenimento as produções buscam contemplar a diversidade ampla e irrestrita. Sem perder o senso crítico, isso é motivo de celebração, e não de lamento. A “meritocracia” de Janaína Xavier é uma falácia tipicamente bolsonarista – a quem ela apoia desde sempre.

Ironia improvável: agora são os tipos eternamente privilegiados que recorrem ao mimimi para reclamar da vida. Vivemos para ver a vitimização de quem sempre correu solto nas facilidades de uma realidade historicamente desigual. Outros casos vão surgir, e esse clima vai se acirrar. A insurreição das loiras da Globo é um símbolo de uma era.