Político é tudo igual no mundo inteiro. Ou melhor, a arte da política é a mesma nos quatro cantos do universo, desde o começo dos tempos. E isso não é uma condenação sumária ao exercício de uma atividade básica em todas as sociedades. Criminalizar a política é um atalho para o abismo. Fora da política não temos salvação, como reza o pensamento reproduzido nas esquinas, gabinetes e academias. A antipolítica é uma armadilha.

Mas eu comecei dizendo que todo político é igual – no bom sentido, que fique claro. Dois fatos semelhantes, separados por 24 anos, vêm nos reafirmar essa tese. Refiro-me ao que fez a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, nesta quarta-feira, 17 de julho. A gestora mergulhou no rio Sena para “provar” que a água está apta a receber as competições de natação nos jogos olímpicos (foto). A festa do esporte começa em nove dias.   

No distante ano de 2000, outra prefeita, numa cidade da América do Sul, também deu um mergulho – mas em águas salgadas. Foi Kátia Born, então candidata à reeleição, que tomou banho na praia da Avenida para provar que o riacho Salgadinho não poluía mais aquele pedaço de mar. O gesto foi bastante contestado e gerou troca de acusações.    

A degradação do Salgadinho e a poluição da praia eram temas quentes daquela disputa. Despoluir o riacho e tornar a Avenida livre para o banho foram promessas de campanha da prefeita. A três dias da votação do segundo turno, Kátia Born mergulha no ponto em que, desde sempre, o riacho e o mar se encontram. Garantiu que estava uma beleza.

Adversário da prefeita no segundo turno, Regis Cavalcante quase infarta de tanta indignação. “Foi um ato irresponsável do ponto de vista da saúde da população e um crime eleitoral”, disse o candidato numa reportagem da Folha de S. Paulo. “Acabei de tomar o banho da dignidade”, declarou Kátia logo após sair das ondas daquele dia.      

O Instituto do Meio Ambiente chegou a ser acusado de manipular os dados sobre a balneabilidade da praia. Lembrando que o então governador Ronaldo Lessa era o padrinho e o principal cabo eleitoral de Kátia. O IMA, sob as ordens de Lessa, teria forjado os índices para atestar despoluição do que despoluído não estava.  

A então presidente do IMA, Sandra Menezes, chegou a declarar o seguinte: “Se alguém ficar doente por nadar aqui no verão, podem me prender”. O clima era esse. A prefeita se reelegeu, obtendo mais de 60% dos votos válidos. E nunca mais voltou àquela maré.  

Até hoje o riacho e a praia da Avenida estão do mesmo jeito. Já o Sena, o Salgadinho de Paris, também é motivo de controvérsia. Por lá, ambientalistas e a oposição dizem que o gesto da prefeita Hidalgo é tudo oba-oba. A política, de toda praia, tem dessas coisas.