“Ninguém conhece vice, eu lá quero ser vice pra quê? Tirante Aureliano, que fala, esse fala, vice não é nada. Vice não fala”. Palavras do doutor Hélio Maciel, personagem de Jô Soares no programa Viva o Gordo, em 1984. O quadro tirava onda com a situação política da época, inspirado na postura do então vice-presidente Aureliano Chaves. Na reta final da ditadura, o presidente João Figueiredo andava irritado com seu vice.

A imprensa informava que as declarações de Aureliano Chaves fabricavam ruídos no coração do decadente regime militar. Por isso ganhou fama de rebelde diante dos rumos da sucessão que levaria o país à eleição indireta de Tancredo Neves. O vice do ditador Figueiredo aderiu à Frente Liberal que apoiou Tancredo contra o candidato do governo, Paulo Maluf. O quadro no programa da Globo era, no fundo, um elogio a Aureliano.

De lá para cá, o vice mudou demais. Se o doutor Hélio Maciel soubesse o que estaria por vir, não seria tão cético quanto aos poderes de um vice. No ano seguinte àquela edição de Viva o Gordo, o vice José Sarney seria presidente da República após a morte do eleito Tancredo. Mais adiante, Itamar Franco assumiria a cadeira de Fernando Collor em 1992. A verdade é que o papel do segundo na hierarquia não pode ser subestimado. 

O último a escrever um capítulo nada trivial na história do país, claro, foi Michel Temer. Sob o manto da liturgia e das curvas da mesóclise, conspirou para tomar a faixa de Dilma Rousseff. Mas, para além dos que chegaram à proa por acidente, exercer o segundo posto pode ser uma aventura cheia de acontecimentos longe do tédio. Pelo contrário.

Alagoas e Maceió. Moacir Andrade virou governador quando Collor saiu para ser candidato a presidente em 1989. Eleito em 1994, Divaldo Suruagy chamava sua gestão de “governo a quatro mãos”. Era uma deferência ao vice Manoel Gomes de Barros, que acabaria na cadeira do governador, após a renúncia de Suruagy em 1997.

Eleito em 1992 prefeito de Maceió, Ronaldo Lessa terminou o mandato no meio de uma briga com sua vice, Heloísa Helena. Já no primeiro mandato como governador, a partir de 1999, Lessa e seu vice, Geraldo Sampaio, racharam numa briga em praça pública. Os dois nem se falavam. O ex-governador segue às voltas com alianças nesse vespeiro.

Outro caso de relação conturbada entre o titular da cadeira e vice é Cícero Almeida. Na prefeitura de Maceió, ele chegou a desalojar sua vice Lourdinha Lyra da sala ocupada por ela. O prefeito evitava situações nas quais a vice tivesse que assumir temporariamente. 

Como se tudo isso fosse pouco, temos uma situação raríssima no Brasil. O atual prefeito da capital, João Henrique Caldas, nem vice tem, depois que o mesmo Ronaldo Lessa renunciou para ser vice do atual governador, Paulo Dantas. É muita doideira.

Como se vê, não é pouca coisa a trama para a escolha dos candidatos a vice na atual disputa pela prefeitura de Maceió. Os dois principais postulantes – JHC e o deputado Rafael Brito – ainda não têm esse parceiro oficializado. Muita calma nessa hora.