Pedro Vasconcelos foi ator e diretor da Globo durante mais de 30 anos. Ao longo da década de 1990 atuou em Malhação, na minissérie Riacho Doce e em novelas como Vamp e Fera Ferida. Depois passou a dirigir e esteve no comando de mais de dez tramas exibidas pela emissora. Após pedir demissão, passou a apontar a morte iminente da maior rede do país. Já escrevi sobre esse fenômeno aqui no blog.

Volto ao tema porque os casos se multiplicam a cada dia. E é algo de fato inquietante. O ressentimento massacra essas almas que não conseguem encarar o passado com serenidade. Acabo de ver uma declaração de Marcelo Madureira, um dos integrantes do Casseta e Planeta, na mesma linha de um caso mal resolvido. Para o rapaz, “a Globo mudou muito”. Após a originalidade, começa a sessão de “no meu tempo...”

Leda Nagle, que saiu da TV carioca há séculos, ainda investe tempo para desancar a antiga casa. Segundo essas vozes, bom mesmo era o tempo do Boni, o diretor que mandava em tudo, de modo autoritário, com acobertamento a assédios e outros tipos de presepada que poderiam rolar. Os relatos não escondem a mágoa com a decisão de ser dispensado. Parece que ninguém consegue tocar o barco adiante.

“Cara, aquela Globo que a gente conheceu já era”. Palavras de Flávia Jannuzzi, repórter demitida da emissora no fim do ano passado (foto). É um dos casos mais problemáticos. Num podcast, ela chega a reclamar abertamente da presença de negros e gays nas redações. Tenta disfarçar, mas larga esta: “A gente vê uma apropriação política dessas pautas e isso virou um espaço de militância onde deveria ter um espaço de mérito”.

Com esse diagnóstico do lugar onde trabalhou por duas décadas, diz que se sentia “um patinho feio”. Faltou pouco para que a loira acusasse a Globo por “racismo reverso”. Como outros demitidos, ela não tem dúvida de que a empresa está em decadência sem volta, à beira do abismo. A internet está cheia de falas da jornalista.

Basta entrar no YouTube, e as sugestões desse tipo de conteúdo pulam sobre este blogueiro. Manoel Soares, que era do Encontro com Patrícia Poeta, conta lamúrias em outro podcast sobre a demissão da Globo. “Foi uma saída traumática”, choraminga o bonitão. Todos são vítimas, foram explorados, não tiveram o talento reconhecido etc.

Até os que ensaiam postura mais contida caem na mesma armadilha. São os casos de Casagrande, Tino Marcos e Marcos Uchôa. Três medalhões. Ao falar da antiga empregadora, eles começam com elogios e agradecimentos – hoje se fala “gratidão” – por tudo o que “aprenderam”. Logo depois, disparam as ironias e os venenos.

É meio triste. Gente afamada, com uma história de sucesso na profissão, bem-sucedida financeiramente, e ainda assim refém de um rancor à flor da pele e das palavras. O negócio da comunicação mudou para sempre. Jornal, rádio e TV se adaptam ao novo mundo. É o que a Globo tenta fazer para continuar forte e influente como sempre foi.

Tudo acaba e se renova, afinal. Não é assim que está escrito? O que parece não ter fim é o tipo de angústia que domina essas criaturas aparentemente atormentadas.