Quando você ouvir alguém dizendo que o cinema argentino é melhor que o brasileiro, pode ter certeza: o cara não sabe nada nem sobre um nem outro. Por que isso agora? Leio na Folha texto de Luiz Felipe Pondé com o seguinte título: “Audiovisual argentino dá de dez a zero no brasileiro”. É espantoso que um colunista ocupe espaço no maior jornal do país com baboseira que nem original consegue ser. Essa onda vem de longe.

Pondé chega com mais de trinta anos de atraso. Em texto publicado no fim dos anos 1980, Paulo Francis causou furor ao escrever que a única coisa que se salvava no cinema nacional era a primeira metade de Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha. Fez uma zoada e tanto e rendeu réplica de Arnaldo Jabor. Monstro da imprensa, Francis estava errado, é claro. Era um provocador, mesmo que para isso dispensasse os fatos.

No caso de Pondé, o “filósofo” repete a mesma ideia, sem uma sombra do brilho do jornalista. Para sustentar sua tese desponderada, o articulista cita duas séries em plataformas de streaming. Não consegue citar um filme sequer argentino para explicar o que tenta defender. Pondé ganhou fama como porta-voz da extrema direita que, entre outras insanidades, tem como esporte o desprezo pela produção cultural brasileira.

Já deu. Isso não rende mais nada. Provavelmente sem assunto para sua coluna, o estiloso resolveu causar com um tema tediosamente batido. Mas isso não tem cura mesmo. Gente com canal no YouTube gasta tempo para debater a “polêmica” sobre Argentina X Brasil na arte cinematográfica. Estamos diante de uma daquelas ideias que ganham vida própria e passam a parasitar o cérebro de otários e ignorantes.

Como já escrevi aqui no blog, o cinema brasileiro vai muito bem, obrigado. É lógico que existem trabalhos ruins, como em qualquer tempo e lugar. O volume de grandes filmes, no entanto, atesta o vigor da produção atual. No texto que publiquei em 28 de abril deste ano, cito dezenas de obras que ilustram a diversidade, a força e o talento de criadores de todo o país. Pondé e outras bestas não viram e não gostaram. E há um aspecto de farsa.

Essa tolice vira piada quando os elogiadores do cinema “inimigo” citam filmes e atores daquele país. Não passam do terceiro título e do mesmo ator: Ricardo Darin. É um acinte aos próprios argentinos. Prova de que o “crítico” ignora a produção de lá e de cá.    

Tudo isso é um falso dilema. Não há melhor ou pior cinema deste ou daquele país. Arte não é um campeonato mundial de chefs pelo título de melhor comidinha do ano. Ao contrário do que pensa Pondé e outros desinformados, o cinema do Brasil está no topo.