Meu pai, Seo Antônio era um cabra bruto, que fugiu do corte de cana, lá na região de Matriz de Camaragibe, Alagoas, para ter oportunidades de sonhar.
Mesmo brotando na acidez do interior, do estado, meu pai tinha sonhos.
Semianalfabeto, eu o via folhear um jornal local , em busca do autoconhecimento e para ir mais longe, fez uma assinatura do “Cruzeiro’, uma revista nacional.
E, essa filha, do mestre funileiro , adorava o protagonismo das iniciativas literárias e pegava bigu nas leituras do mundo.
Foi com meu pai semianalfabeto que aprendi as leituras do mundo e de gostar de política.
Eleitor do grande político Divaldo Suruagy dizia que ‘era um cabra de valor, honesto’.
Machista, meu pai, dizia que mulher não podia ocupar lugar de homem.
Eu o contestava.
Desde pequenina, esta ativista, tinha a liberdade como bússola, sem mesmo entender o que era.
Aos 12 anos, conheci a escrita francesa de Simone de Beauvoir, ( c'est trés chic), até a juventude quando fui apresentada a essência da negritude, a partir dos movimentos negros.
Meu pai , um sujeito ríspido, machista, me ensinou a enfrentar o ‘não ter medo do improvável’.
Meu pai era um artista incompreendido, bruto, e eu o amava.
Quase um espelho.
Um dia, meu pai disse que eu tinha que obedecê-lo, daí infringi a regra, o cabra me deu uma surra de cabo de vassoura.
Nesse dia, aos 15 anos, olhei para meu pai e disse:- Bata, mas, é a última vez que apanho.
E assim foi feito.
E, a partir daí, nunca, nunquinha meu Pai me surrou, como também, desenvolveu um orgulho grande e danado pela filha que o enfrentou.
Meu pai, me chamava de Dona Arísia e tinha um orgulho visceral da minha brabeza politicamente cidadã.
Faz um tempo enorme que o mestre funileiro partiu para as estrelas, mas, quando a gestora branca afirmou que a filha do meu pai, devia obediência, o mestre funileiro/serralheiro pai mandou recado.
Enfrente!
As lutas do meu pai, pela liberdade de sonhar, estão vivas em mim.
Continuo na luta.
Te amo, meu pai!