Errei. Em texto sobre o roubo de joias cometido por Jair Bolsonaro, publicado no fim da tarde desta segunda-feira 8 de julho, escrevi que o ex-presidente teria embolsado 25 milhões de reais. Tudo isso é o que dizia a Polícia Federal, que indiciou o acusado por organização criminosa, peculato e lavagem de dinheiro. Mas não foram 25 milhões de reais, e sim 6,8 milhões. A PF errou e fez a correção logo em seguida. Eu também.
Meu texto está no ar corrigido, com uma nota ao final esclarecendo o equívoco. Era tudo o que eu tinha a fazer após a PF retificar a informação. Entre a publicação e a mudança dos números não foi mais de uma hora. Tudo certo então? Mais ou menos. Depende. Não sei ao certo. Nós jornalistas não conseguimos admitir nenhuma falha, reza uma antiga lenda com fundo de verdade. Coisa séria. Vamos pensar um pouco mais a respeito.
Minha fonte era a grande imprensa. A notícia estava em destaque na Folha, no Estadão, na Veja e nos demais veículos. A fonte dessas publicações era a PF. Nada mais sólido e consistente. Não pesquei a coisa no WhatsApp, no Leo Dias ou no Instagram do Choquei! Estava diante de uma notícia com origem oficial chancelada pela imprensa profissional. Após leitura atenta dos fatos, escrevi e publiquei o artigo.
Mas seguir os requisitos básicos do bom jornalismo não foi o suficiente para blindar o blog de um erro. Justificar a lambança com a falha de terceiros é o caminho mais fácil. Ora, foi a PF que vacilou e induziu a imprensa a reproduzir os dados errados. Mesmo que esse argumento seja de fato legítimo, será mesmo que era inevitável publicar a informação equivocada? No meu caso, talvez não. Algo foi negligenciado.
Publiquei o texto em questão no calor do instante, o que não é a regra. Tivesse deixado para um pouco mais tarde, teria visto a correção da PF e alterado o número. E assim o leitor nem saberia do meu erro, devidamente eliminado do escrito antes de ir ao ar. A pressa não é boa companheira. É um clichê, mas para o jornalismo é um mandamento, um dogma. Ser apressado foi a minha perdição. É uma análise sem desculpas
Em quase 10 anos como editor-geral da Gazeta, fui cobrado algumas vezes quando a concorrência dava uma informação forte que minha edição não trazia. No jargão do meio, é o “furo de reportagem”. É chato. Mas não há como evitar. Agora, muito mais grave é publicar o que não aconteceu – também no jargão, a “barriga”. Após o furo do rival, você corre atrás para superar. Já o estrago de uma barriga não tem volta.
Voltando a Bolsonaro. Ainda bem que foi “apenas” um número. E se fosse, por exemplo, a morte de alguém! Já pensou? Matar uma pessoa que está Vivinha da Silva. A imprensa está cheia de casos assim. Cometer um erro. Ótima ocasião para nos lembrar que somos falíveis. Erramos pela vida afora. Disso eu entendo. O bom é que, até nessas horas, tenho ideias para rabiscar e dividir alguma perplexidade por aqui. Rendeu este artigo.