Após a derrota nas urnas em 2022, Jair Bolsonaro partiu para os Estados Unidos e se recusou a passar a faixa ao presidente eleito. Enquanto isso, seus assessores mais próximos tratavam de negócios com as joias recebidas de presente pelo governo brasileiro. As peças foram vendidas no exterior e renderam ao menos 6,8 milhões de reais. O incorruptível levou o troco em dinheiro vivo e em pagamento de contas pessoais.

É o que está no relatório da Polícia Federal que indiciou o ex-presidente por associação criminosa, peculato e lavagem de dinheiro. Somados, os três crimes podem gerar penas que passam de 20 anos de prisão. A Procuradoria-Geral da República vai decidir se denuncia Bolsonaro. Segundo se especula na imprensa, essa decisão não deve ocorrer antes das eleições deste ano. A PGR quer evitar assim a politização do caso.

É compreensível. Sem dúvida o noticiário policial, digamos assim, no calor da corrida pelas prefeituras pode gerar um ruído desnecessário. Mas esse é um componente inevitável. Bolsonaro terá de fazer malabarismos retóricos para se explicar diante das acusações baseadas em indícios de sobra. Aquele que se vendia como inimigo do sistema, sem casos de corrupção no currículo, tem muito a explicar.

O esquema de desvio de joias – que coisa! – está carimbado na estampa do larápio do patrimônio público. As revelações apenas confirmam o histórico do político que enriqueceu ao longo dos mandatos. Transação imobiliária com dinheiro em espécie é uma marca da família Bolsonaro. O senador Flávio acaba de quitar uma mansão por 3 milhões de reais sem esclarecer a origem da fortuna. Sem falar nas rachadinhas.

Ao que parece, o chefe da quadrilha e seus seguidores apostam na máxima de que hoje em dia, no reino das fake news, nada cola. O certo é que o discurso da honestidade foi para as gavetas na estratégia política do capitão da tortura. Por isso, a verborragia estará concentrada cada vez mais nas lorotas de defesa da família, do patriotismo e da liberdade. A mistificação será a única via na busca pela sobrevivência.

Há quem tenha certeza de que isso vai pegar mesmo. Afinal, segundo essa hipótese, os súditos não abandonam o líder – mesmo com as provas de sua reluzente desonestidade. A ver os passos da PGR ao longo dos próximos meses. Certo é que Bolsonaro pode fingir que está tudo bem, mas sua situação se deteriora diante dos fatos. Uma condenação será fatal. O “mito” pode chegar a 2026 como um cabo eleitoral na lona. 

NOTA. A PF divulgou antes que o valor do roubo era de 25 milhões de reais, como publiquei. Horas depois, corrigiu as informações. Não altera em nada a essência dos acontecimentos.